Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

VERSOS RIMADOS

Versos de amor, de crítica, de meditação, de sensualidade, criados ao sabor da rima e da métrica pelo autor do blog...

Versos de amor, de crítica, de meditação, de sensualidade, criados ao sabor da rima e da métrica pelo autor do blog...

A CONDUTA



Deixar as palavras seguir o seu rumo
Deixar-nos levar pelo silêncio
talvez assim a gente proceda com aprumo
Talvez assim se evite o inútil dispêndio...

Seguindo por uma tal conduta
Orientadora dos nossos sentidos
Talvez a gente fuja de qualquer disputa
Que por força gera sempre inimigos.

As palavras rumadas são verdadeiras
Não são apenas metáforas e seus jogos
Não têm por missão ser feiticeiras
Nem o seu objectivo será atear fogos!

Se cairmos no meio de uma combustão
Ainda que por instantes muito breves
As queimaduras podem ser leves
Mas deixam marcas quer a gente queira ou não.

Andarmos apressados sem nexo
É como caminhar-se à deriva
Tudo se torna tão complexo...
E a vida ainda  mais opressiva...

LUGARES



Andando de lugar em lugar
Gozo de muita serenidade
Impõe-se o que alcanço com o olhar
Esmorece o que se opõe à felicidade.

Milhares de passos que dou
A meditação os acompanha
Esses instantes dizem-me quem sou
A incerteza não me acanha.

Imensas casas em tantas ruas
Avenidas e mesmo estradas
No céu íngremes gruas
Em cima de obras inacabadas.

Jardins de relva e flores
Cheios de árvores ornamentais
Lançando no ar os seus odores
Animam-me ainda mais.

Setúbal Palmela Pinhal Novo Moita
Lisboa Barreiro Alcochete Montijo
A quem pelos seus caminhos se afoita
belezas raras são fonte de regozijo!

Palavras e palavras



Também na conduta humana há interstícios
Entre os quais se alojam tendências perniciosas
A vida não flui é uma massa viscosa
Que se remove à custa de muito desperdício.

Pouco trazem as palavras à guisa de efeitos especiais
Que após lidas apenas deixam escuridão
As que dizem ao que vêm com exactidão
Fazem das ideias as suas linhas principais.

Esquecidas as palavras mal vai o poema
Se quem as leu não ficou com qualquer lembrança
De qual teria sido o seu tema
Se de amor de infortúnio ou de esperança.

Há filmes que são muito bons entre os peritos
Mas o espectador ao vê-los é invadido pela frieza
Não vive emoções nem dos felizes nem dos aflitos
Sai da sala contagiado por um sentimento de tristeza.

Buscando como linha mestra o indefinido
Acaba  o criador por cair num poço sem fundo
Do qual por ninguém poderá ser erguido
Porque vive de costas viradas para o mundo!

O mundo mais não é do que um vidro reflector
Em que revê cada pessoa a sua imagem
Figuras impressas nele de falsa linhagem
Provocam na humanidade contorções de horror...

SOL



Os seus raios incandescentes
Dão luz e calor à nossa essência
Quebram as fortes correntes
Que nos oprimem na sua ausência.

A sua claridade expressiva
Nos dias em que o não encobrem
Enche de cor a nossa vida
Mata as sombras que nos consomem.

O Sol que já foi um deus
Não deixa de ser uma mãe
Que nos acolhe nos braços seus
Sem exclusão de ninguém.

Não o podemos comprar
Mas tornamo-lo menos são
Lançando gases no ar
Que destroem a vital protecção ...

AS ROSAS



As rosas jamais serão
Palavras bem alinhadas
São flores que deixam no chão
Pétalas que lhes foram arrancadas.

O seu perfume suave
Que se evola na atmosfera
Tem as asas duma ave
Em dias de primavera.

De cores  mais variadas
Têm beleza infinita
Quer em alegrete plantadas
Quer em ramo preso com fita.

Os espinhos bem despertos
São seguros guardiões
De mil segredos que os botões
Só dizem depois de abertos.

Os espinhos da minha roseira
Fortes e pontiagudos
Afastam a mão dos abelhudos
Que dela muito se abeira! 

Trilogia



Para os lados do poente
Aonde o Sol se vai anichar
O céu azul todo contente
Bordeja as águas do mar.

Um acto sempre renovado
Desde manhã muito cedo
Quando o mar ainda ensonado
Abre os seus olhas a medo.

Uma viagem quotidiana
Sobre um trilho prateado
Um bordo verde outro azulado
Onde nem Sol nem mar se engana.

O Sol que ao meio dia
Está mais perto do céu
Não abandona a baía
Do rio Sado que o elegeu.

Atrás da serra refulgente
Longe da vista dos dois
Inclina-se o Sol poente
Que há-de voltar horas depois!

Caminhando e vendo



Somente as coisas profundas
Enchem a alma ou lá o que é
Lavam as chagas imundas
Emprestam razão à nossa fé.

Ali do meu lado direito
Há uma escada sempre a subir
Leva a um cenário perfeito
Que ninguém pode esculpir.

Do seio da natureza
Floresce o belo universal
Só entende a sua beleza
Quem não sabe fazer-lhe mal.

Os olhares que ficam presos
Numa araucária que rompe o ar
Vêem no céu os relevos
Que as nuvens sabem desenhar.

E o castelo de Palmela
Que acaba de entrar em cena
Fecha com brio a tela
Esboçada por mim neste poema!

Mas à noite a cidade fica
Morta por despovoada
E empobrece a caminhada
Que à tarde fora tão rica.

Na imensa solidão
Dos passeios desnudados
caem-me os olhos no chão
Tristonhos e angustiados...

LONGEVIDADE

A longevidade sim a longevidade
A dos anos é dessa que se fala
Sem quaisquer laivos de ambiguidade
Estar vivo é o sonho que nos embala.

A longevidade tem muitos ramais
Que ao viver trazem outra dimensão
Se é verdade que somos animais
Também o é que temos a razão.

Se não lesse em toda a minha vida
E não escrevesse ainda que bem ou mal
Os anos seriam ilusão perdida
Casca de noz em noite de temporal.

Caminharia por outras estradas
Diversas das que percorro hoje
Não teria as memórias embalsamadas
que guardo no meu cérebro-alforje.

Manter e preservar a raça humana
Voltar de viagem sem saber onde se esteve
Ver apenas o que a superfície emana:
Viver não é assim coisa tão leve...