Os sussurros que chegam aos meus ouvidos Quando pronuncias o meu nome Abel são doces quais melosos zumbidos De abelhas elaborando favos de mel, Nas tuas mãos trazes a delícia Das carícias cada vez mais recriadas Adormeço adormecido na preguiça De separar as nossas mãos entelaçadas. Nos teus beijos mato a sede infinda Que os teus lábios tão bem sabem saciar Olhando para ti vejo-te tão linda Que o coração parece querer me abandonar. Vai sem sair do meu peito Paira sobre nuvens em folguedo Só e mudo no pretérito-perfeito Ora o que de ti vê diz-me em segredo. Outrora uma rua silenciosa e parda Hodierna avenida ladeada de plantas Amanhã é um tempo que não tarda Transbordemos hoje de amor até às tantas!
Nos dias venturosos de primavera Em que o vento sopra mais ligeiro Encurtas muito mais a minha espera Do que no tempo frio ou soalheiro. O teu corpo cheio de frescura Abre-se em pétalas coloridas Sou rio correndo sobre a planura Do horizonte das nossas vidas. Qual árvore folheando os seus ramos Trazes contigo o Sol levantino Tens a luz da lua quando admiramos O mar tomado de furor repentino. Serás sempre um elo no destino que for Forte ou fraco pouco importa Serás a chave que abre e fecha a porta Por onde exalamos o perfume do amor. As gotas caídas no chão duma gruta Penetradas nos interstícios do rochedo Trazem consigo o eterno segredo Que só conhece quem as escuta...
Sonhei um dia contigo E passaste a ser alguém Com que sonho ao abrigo Dos sonhos que fazem bem. Será por ti mais sonhado De tudo com que sonhaste O que sempre desejaste Mas nunca foi alcançado. Os sonhos que nós sonhamos São coisas que se idealizam, Embora todos saibamos: Nem sempre se concretizam. Dos sonhos lindos que sonham, Da infância à velhice Os homens não se envergonham Que sonhar não é tolice!
Andei pensando seriamente Num poema de amor mais alegre Em que a gente viva contente Em que a tristeza não se nos apegue: Ai amor como eu te amo Sei que me amas também assim Ou eu muito me engano Ou este amor não terá fim. Vejo no céu bom augúrio E nos teus olhos também Juro sem cometer perjúrio Que te amarei ainda no além. Há em tudo o que tu fazes Um pensamento positivo Nunca fazemos as pazes Pois não te zangas comigo. No seio do nosso lar Tudo é grande ainda que pequeno Sempre que vens anichar No meu o teu corpo moreno. Entre o teu e o meu corpo Juntamente com o calor Há uma troca de amor Que nunca chega a ponto morto. E pronto alcancei a conta das cinco quadras habituais Não carece forçar mais Esta minha cabeça tonta...
Se os seus olhos que tanto brilham Viessem na minha direcção Seguramente lhe diriam A quem pertence o meu coração. Se os seus olhos de cor tão bela Se cruzassem com o meu olhar Seriam a única estrela Que havia de me guiar. Mas os seus olhos são montanhas Que os meus não podem trepar Deixam-me sempre às aranhas Se procuro o seu olhar. Viajam noutro planeta Os olhos da minha amada O amor é já só paixoneta Que a esperança está gorada. Nem dias de Sol nem noites de luar Trazem a luz requerida Só a luz do seu olhar Traria luz à minha vida!
Quantos dias se sumiram Quantos passarão ainda Quantas noites não dormiram Aguardando a tua vinda! Tantos dias de agonia De saudades rodopiando Tantas as horas do dia Quantos ais por ti suspirando! A tristeza não se intervala Assentou arraiais em mim Tu não vens ela não abala É uma rota sem fim. Se ao menos tivesses deixado Uma semente dentro de mim Seria como um recado Que me trouxessem de ti. Nenhum recado me deixaste Nenhum recado de ti chegou Partindo contigo levaste O amor que a mais ninguém dou.
Nesta sala escura e tão fria! Prisioneiro entre quatro paredes Sou um peixe apanhado nas redes Do pescador da minha nostalgia. Não tenho sido assim a vida inteira Dentro do meu ser também floresceu A rosa de uma linda roseira Cujo odor em mim ainda não morreu. As suas mãos nas minhas enlaçadas São as memórias de uma outra era São mais um conto dos contos de fadas São a morte que vive à minha espera. Aquela estrela ali na Ursa Maior A qual em noites claras ainda espreito Era a luz do meu rio de amor Cujas águas secaram no seu leito. No meu quarto da cama adormecida De longe vem uma voz se aproximando Uma voz cada vez menos sumida Que em mim suspira quando estou sonhando!
Não é por ingenuidade Que se tem um sentimento Que toma a nossa vontade Sem pedir consentimento. Nem é por qualquer cegueira Que se ama sem remissão Manda mais o coração Mesmo quando não se queira. Não pode o animal selvagem Deixar o seu habitat: Não é falta de coragem A vida é que o prende lá. As grades duma prisão Às vezes são amovíveis Mas as do amor é que não Porque essas são invisíveis. Me enredaste, ó sedutora, Numa malha bem urdida Agora és tu senhora Do resto da minha vida!
Só por mero preconceito Se fala indirectamente Com quem se encontra sujeito A nos ter sempre na mente... Não sei bem se por amor Por carinho ou devoção Perdemos o coração Por quem nos faz sentir dor. Esta chama exuberante Que incendeia o nosso peito O teimoso preconceito Quer matar a cada instante... Não é uma boa lida Aconselhar toda a gente Sem nos olharmos de frente Perguntando de seguida: Que quero fazer da vida Cerrando tanto os meus olhos Que sem ver piso os escolhos Que podem causar ferida?
Sobre a fina areia da praia O sol na imperceptível subida Sem ter tirado ainda a saia Estende-se descontraída. Algo prende o meu olhar Que por ora não identifico Não sei se por admirar Ou se por achar ridículo. Destraidamente abstrato Sigo as calmas águas do mar Mas no momento imediato Prende-se de novo o meu olhar. O que houvera pressentido Agora se mostra evidente Ali mesmo à minha frente Só com um biquíni vestido. Dois tesouros duas relíquias O mar e uma mulher linda O amor e as horas idílicas A saga humana infinda!