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VERSOS RIMADOS

Versos de amor, de crítica, de meditação, de sensualidade, criados ao sabor da rima e da métrica pelo autor do blog...

Versos de amor, de crítica, de meditação, de sensualidade, criados ao sabor da rima e da métrica pelo autor do blog...

EM QUE AS VACAS SÃO SAGRADAS

 

O reflexo da luz duma lanterna
Num muro velho dando já de si
Numa rua sombria de Dili
Que fica numa zona mais interna...

Cabisbaixo abandona uma taberna
Uma mulher vestida de sari.
Uma jovem bonita por aqui?!
Somente vai ter paz na vida eterna...

Na Índia onde as vacas são sagradas,
Tantas filhas serão indesejadas
Porque os seus pais aos noivos pagam dote...

São muitas as mulheres ofendidas
Que vivem o seu fado entristecidas
E de cabeça baixa até a morte...

NÃO QUEIRAIS SER MAIS PEQUENOS

 

Não venceram o cabo das tormentas
Nos seus navios quais cascas de noz;
Na velocidade perdem muitos nós
As naves portuguesas algo lentas...

Após bastantes horas turbulentas
O clamor dos egrégios seus avós
Exige uma equipagem mais veloz,
Mais forte para as próximas contendas...

Heróis da bola, nossa nobre equipa!
Um herói futebolista nunca fica
A ver passar navios dos helenos;

Avançai e mostrai a valentia
Das naves portuguesas,com mestria,
Que os gregos não queirais ser mais pequenos!

OS POETAÇOS

 

Cortam as suas prosas em pedaços
Aos quais infelizmente chamam versos
E de cortes de prosa desconexos
Atulham volumosos calhamaços...

São pecos e sombrios poetaços
que 'screvinham em seus papéis diversos
Projectos de poemas tão complexos
Que se enredam nos próprios embaraços...

Co'as suas penas ásperas e 'streitas,
Ineptas e de ideias rarefeitas,
Destacam estas mentes inovadas

Umas pausas que marcam os assombros,
Os ritmos sincopados e os tombos
Das linhas que vão sendo retalhadas!

OS POETAS MODERNOS

 

Um nó que fortemente me oprimia
Me levou a compor este poema
Que aborda, ao de leve, um nobre tema
E tem um certo humor e fantasia...

Não aprecio aquela poesia
Que atropela a sintaxe por sistema
E à qual não se coloca o são dilema
Da escolha entre o rigor e a anomalia,

Nem os poetas modernos que, perplexos,
Se entreolham dum olhar feito de espanto
Quando uns aos outros lêem os seus versos

Tão livres e 'sbatidos sobre o branco
Numa triste tristeza muito imersos
Sem medida, sem ritmo, sem encanto!!!

NUVENS BRANCAS EM FOLHAS DE PAPEL

 

Os leitos empedrados e arenosos
dos rios de água doce já vão secos...
Chilreiam rouxinóis que lembram recos
chafurdando em terrenos pantanosos...

Os frutos suculentos saborosos
murcham em ramos mortos como cepos...
Insensíveis ressoam muitos ecos
que nos trazem recados ruidosos...

Rimas pobres e ricas se afogaram
entre as águas dum mar surdo e cruel
de cujas profundezas se elevaram

linhas livres amargas como o fel...
e aladas pelo vento se espalharam
nuvens brancas em folhas de papel!

A REVOLTA ORGULHOSA

 

Se não se colhe a tempo o fruto cai
de maduro e no chão logo apodrece
e há muito boa gente que se esquece
do que se fez em tempo que lá vai...

Muitas vezes, ingrato, se distrai
o povo e, esquecida, desmerece
a generosidade qual benesse
dum ídolo na hora em que descai...

Eterno só é Deus e há que pensar
que a juventude um dia esmorece
e é preciso saber continuar...

A sensatez amiga favorece
a lucidez que obriga a rejeitar
a revolta orgulhosa que enlouquece...

SÓ NOS RESTA A ESPERANÇA

 

Sinto tremores frios no meu corpo,
Inverno enregelado que me mata,
ilusões enroladas em cascata
num turbilhão que vive meio morto...

Soldado amedrontado em casamata
que vê a morte em campo de batalha,
tem medo mas a Pátria logo ralha
e uma dúbia coragem o arrebata...

Na vida a plenitude não se alcança:
devido a embaraços que nos surgem
da vida só nos resta a esperança...

São muitos os desejos que nos turgem
mas as contrariedades em aliança
transformam os desejos em ferrugem...

CUMPREM SEMPRE PENITENCIAS

 
Pintados de amarelo cor de fome,
percorrem assustados os seus mundos
levando atrás de si um medo enorme
e as chagas dos seus corpos tão imundos!

Também levam consigo vis misérias,
vidas regurgitadas dia a dia
nos míseros casebres de agonia
em que as vidas humanas são galdérias...

Mais do que a seara humana luzidia
resplandece o egoísmo dos poltrões
que exploram quem trabalha noite e dia.

Num mundo que só vive de aparências,
as ocasiões fazem os ladrões
e os pobres cumprem smpre penitências...

O PÃO QUE ELE AMASSOU

 

Paira um pesar fingido mascarado
em muitas roupas vãs pecaminosas,
criaturas humanas andrajosas,
fingimento das almas em pecado...

O diabo que anda à solta, em correrias,
oculto por travessas e veredas
escuta sempre tudo o que segredas
e lança a perdição todos os dias!

O trigo da fartura que consomes
por vezes faz o pão que ele amassou
e que tu sem saber ainda comes!

Chega a hora em que os olhos bem abertos
vêem o mal que em ti um dia entrou
e então vais por caminhos encobertos...

A LUZ QUE BRILHA ÀS AVESSAS



Afugenta a palavra, qual tropeço,
O cordeiro inimigo, maculado,
Escorpião, veneno inoculado,
A pedra pontiaguda de arremesso...

Fútil vaidade humana sem promessas!
Tu vens das catacumbas asquerosas,
Trazes reminiscências escabrosas,
Tu és a luz que brilha às avessas...

Imersão em areias movediças,
Levantar de cabeça atrofiada,
Ranger de ferrugentas dobradiças

Escondes a aflição desmesurada,
Confrangedor alerta sem premissas
Numa atitude à morte condenada!

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