Será condescender o fingimento? Ou será, plo contrário, a franqueza Que promove a procura da clareza, Essa força motriz do entendimento? Será condescender o aviltamento Da falsa concordância sem nobreza Em vez do discordar com a justeza Que leva mais além o pensamento? A dissimulação é tão estulta E o seu efeito tão mau conselheiro Que causa uma legítima repulsa... Discorda bastante o homem, prisioneiro Da sua convicção que não expulsa, Mas ao condescender é verdadeiro!!!
Os meus lábios nos teus suaves seios Encontram o prazer entumecente Que transmite ao meu corpo já tremente O vigor que sacia os devaneios... Encho as mãos do teu peito e sinto anseios A fluir como rios em torrente Que tornam o meu sangue tão potente Que estou dentro de ti livre de enleios... Os teus seios redondos e empinados São o cerne dos sonhos mais sonhados, São a cana-de-açúcar que suguei, São os pomos que o meu grito agarrou Nos dias em que o teu corpo sangrou E no teu inverso eu também sangrei
Para que serve a tua palavra Repetindo hoje o que ontem disseste? Que fruto se colhe duma lavra Que se fizer em terreno agreste? Da água potável que se bebe Tira-se o soro que nos dá vida O animal faminto pula a sebe Atrás da qual se encontra comida! Se com esmolas se mata a fome Por que te escondes no egoismo desonrando assim o nobre nome Que hás recebido do teu baptismo? Se o erro que às vezes enalteces É fonte de ciência e saber Por que tardas em reconhecer Erros que tu sabes que cometes? Sempre que não vês a evidência Da palavra que não tem razão Feres sem que tenhas consciência Alguém que te ouça com atenção!
Me ajoelhei no altar e confessei A vida dissoluta que era a minha. De olhos fechados vi uma estrelinha Mais brilhante que as jóias dalgum rei! Um arco-íris tão lindo que nem sei Se formou em redor duma santinha: Um prodígio do Céu que à terra vinha. Deslumbrado e em silêncio eu orei. A presença de Deus senti, na igreja: Suave tranquilidade deleitosa! Louvado o Senhor Deus, louvado seja! Terminada esta reza milagrosa, A minha alma nova só deseja Uma vida cristã mais rigorosa...
Condescendo se os erros meus confesso. Se aprovo quem errou, sou desumano. Se concordo em perfeito desengano O respeito dos outros desmereço... Por amizades veras levo apreço. Na mentira um amigo é puro engano. O falso sim é um acto leviano. Na falsidade não me reconheço... Quais notáveis axiomas-corolários, Verdades matemáticas reais, Uma dedutiva a outra intuitiva, Os valores morais são já lendários Guias das nossas práticas sociais, Olhos duma visão mais objectiva
Cuidado com os maus, não creiam neles São homens desprezíveis e mesquinhos Felizes somos nós e são aqueles Que estão sempre do lado dos bonzinhos. Conheci um farsante que passava Por muito bom aos olhos da vizinha Subtraiu o pecúlio à pobrezinha Era mau o bom homem que ela amava! Quem é mau, quem é bom sabe-se lá Quando menos se espera se verá Que quem era mau é bom e vice-versa... Mas já vai muito longa esta conversa Esperar para ver será melhor Do que julgar com falta de rigor!
Basta querer e a fonte logo brota A luz e o calor que traz a paz Dizia a minha mãe, sendo eu rapaz, Sempre que entrava o Sol pla nossa porta. Não sei de que falava a sabedoria De minha mãe que tanto me embalou Era talvez o amor que me nutria A luz e o calor de que falou. Ó mãe, tu és palavra que harmoniza A vida tumultuosa, em trambolhões, Ó mãe, tu és palavra que eterniza A doçura das eternas orações Para sempre o teu nome simboliza O amor dentro dos nossos corações!
Ouvi uma historieta tão pequena Quanto grande era a alma que a dizia, Contada com aquela fantasia De actor de palmo e meio que entra em cena! Voz infantil, pacífica e serena, Benção divina cheia de magia Que logo nos cativa a simpatia E faz esquecer o ódio que condena Quem o sente e amargura quem o sofre. Voz de criança pura e graciosa, Quais versos duma bela e longa estrofe! Voz de criança fresca como a rosa, Tesouro que se guarda bem num cofre, Não se perca a mensagem gloriosa!
Naquela tarde triste acabrunhada Um tremor invadiu a minha alma À fresca sombra amiga duma palma Ergui olhos ao Céu e não vi nada... Lágrimas envolvidas de suor Turvavam os meus olhos sem saber Embora não sentisse o seu correr As lágrimas lavavam minha dor... No silêncio limpando cá por dentro Iam diminuindo o sofrimento Que vinha duma perda irreparável... Perdida aquela imagem tão querida Caíram os meus braços de seguida E a vida se tornou insuportável!
Ribeira, ribeirinha, tu murmuras Das águas duma fonte abençoada Se as tuas águas secam não há nada Que valha as tuas águas sempre puras! A sede tu me matas no Verão E lavas o meu corpo tão cansado! As tuas águas ficam sempre à mão De quem vive por ti apaixonado! Se a água salva a vida a um vivente Então a minha vida se mantém Graças às águas frescas da nascente Que por fora e por dentro fazem bem A quem bebe e se lava na corrente De água que desta fonte eterna vem!