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A minha solidão aumenta
Com o rodopio circundante
Dos que se afastam no instante
Em que a fala os afugenta...
Como eu seria feliz
Se os estorvos do meu viver
Tivessem a mesma matriz
Ou pudessem parecer
Semelhantes aos dos que
Se distanciam a correr!
Como eu os invejo!
Que felizes devem ser!
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Menina que vens de saia
Do vento não a segures
Deixa que o olhar me caia
Na seda que tens algures.
Quero invejar o tecido
Que se agarra à tua pele
Soltar de mim o gemido
Que o desejo não repele.
Deixa que o novelo negro
Que te faz nicho entre as pernas
De ti me diga um segredo
A mim me agite os espermas.
O vento não é estulto
Se te envolve no seu sopro
E me provoca este vulto
Que me vai deixando louco.
Mulher homem e o vento
Trilogia dum segundo
Sopro que põe ao relento
Toda a beleza do mundo!
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Um poeta pode bem ser
Quem aventa um pensamento
Que não cai no esquecimento
Daqueles que o sabem ler.
Um ouriço aveludado
Que em si traz uma castanha
Esquecido o razoado
Pouco fica da resenha.
Um castanheiro descrito
Nunca será descoberto
Quer se passe longe ou perto
Quer se leia o que foi dito.
As palavras sem mensagem
Belas embora não são
Mais que uma lábil aragem
Que não se prende na mão.
Uma árvore afinal
Não se descreve jamais
Em Viagem a Portugal
Do que eu diz quem sabe mais.
A poesia não há-de ser
Beleza só de aparência
Nem fala que traga ausência
Daquele que a escrever!
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Não uma duas três velas
Muitas mais eu acendi
Feneceram todas elas
Nos trilhos que percorri.
Germinam as falas mansas
Do lobo pele de cordeiro
Que matam as esperanças
Das gentes de corpo inteiro.
Velas que Gandhi acendia
Não serviram de lição
Quando a Índia se cindia
Nela mesma e Pasquistão.
Caxemira e Bangladesh
São lições que não se aprendem
Só o ódio recrudesce
E as velas já não se acendem.
O nuclear de costume
Acrescenta a maldição
As velas perdem o lume
Mais se adensa a escuridão.
Nisto da criatividade
A verdade é nua e crua
Cada qual terá a sua
Como na própria verdade!