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VERSOS RIMADOS

Versos de amor, de crítica, de meditação, de sensualidade, criados ao sabor da rima e da métrica pelo autor do blog...

Versos de amor, de crítica, de meditação, de sensualidade, criados ao sabor da rima e da métrica pelo autor do blog...

PESSOAS E PAISAGEM



Cinza verde ou azulado
Conforme as feições do dia
As águas do rio Sado
São lágrimas de alegria.

Rodeado de pinheiros
E de algum mato bravio
São Filipe ali cimeiro
Bebe as lágrimas do rio.

A pousada um pouco ao centro
E o conjunto de guaritas
São coisas novas e antigas
Que o castelo tem lá dentro.

Há uns moinhos de vento
Que se encontram à direita
Presos ao encantamento
Do castelo que os espreita.

A serra em forma de crista
Que se eleva a ocidente
Tem na fortaleza à vista
Uma guarda permenente.

Os navios prestam honras
Em frente destes tesouros
Entre o espumar das ondas
E o roncar dos seus motores.

Embora o vento de norte
Desalinhe o meu cabelo
Sinto-me cheio de sorte
Ante este quadro tão belo.

A coinceneração
É uma queima selvagem
Nociva à população
Nociva a esta paisagem...

OS ANOS



Quanto mais velho se fica
Mais se aproxima o passado
E tudo na nossa vida
Se passou inda há bocado.

Vinte ou mais anos atrás
Quão longe era o recordar
De quando fui militar
Dos meus tempos de rapaz!

A morte que não se evita
Não me traz desassossego
Mas já não é muito cedo
Pra que não faça visita.

Muitos mais anos vivi
Que aqueles que vá viver
Mas só agora entendi
Que uns e outros vão-se a correr:

Parece que há muito tempo
Porém o tempo é só um
Para um qualquer momento
Não falta tempo nenhum!

DENTRO E FORA DO MAR



Pão no bico dos pardais
Melros com bichos no bico
Vão e vêm buscar mais
Num vaivém quase infinito.

Viro folhas com prazer
De mais um livro que leio
Inigualável recreio
Misto de acção e lazer.

Árvores deixando os lutos
Ganham nos meses que vão
Da Primavera ao Verão
Folhagem flores e frutos.

Hodiernos barcos sem vela
Deslizam na água azul
Ventos do Norte ou do Sul
Passeiam por cima dela.

De noite quais sentinelas
Junto à muralha taínhas
Traçam borbulhentas linhas
Quer em cruz quer paralelas ! 

NO CEMITÉRIO



Só pode ser bruxaria
Soavam vozes no ar
A uma hora tardia
Incomum em tal lugar.

Era junto ao cemitério
Onde jaziam as almas
Horas infindas e calmas
Até surgir o mistério.

O grupo cheio de medo
Ficou do lado de fora
Não desvendou o segredo
De que vou falar agora.

Uma noite com gemidos
Saciada atrás dum  jazigo
Quem eram? caros amigos!
Se o disser eu corro perigo...

Havia um vulto alto e escuro
De colar branco ao pescoço
Se era quem pensam não juro
Dos dois um vi que era moço...


NAS ESTRADAS



Um risco ao longo da estrada
Traçado com tantas curvas
Que lembram dedos de luvas
De mãos duma doce fada.

Lá ao fundo numa curva
Da estrada não do risco
Não vejo bem mas arrisco
Por terra há uma luva.

A luva não está caída
Mas sim calçada na mão
Dum corpo que jaz no chão
De alguém que perdeu a vida.

O sangue vermelho escuro
Já começa a ficar seco
Sinto-me dentro dum beco
Em que ninguém está seguro.

Procuro aquela saída
De que outros vão à procura
Talvez salvar uma vida
Nas estradas da loucura.

Não bebi estou sereno
Sempre dentro dos limites
Mais vale um sonho pequeno
Do que os loucos apetites!

UMA IDEIA



Talvez viver noutro astro
Deixar a terra maldita
Não levar dela nem rasto
Pra que ela não se repita.

Penso em uma odisseia
Para além do nevoeiro
Tecer uma nova teia
Num astro estranho e estrangeiro.

Romper o denso negrume
Que cerca a humana raça
Extirpar dela o costume
Que a faz cair em desgraça.

Destruir os labirintos
Em que velam os rancores
Construir outros recintos
Com o perfume das flores.

Penetrar numa floresta
Sentir o correr da seiva
Dormir à sombra uma sesta
Sobre uma folhosa leiva.

À meia noite acordei
Dum sonho que não é meu
Foi um sonho que sonhei
Duma ideia que nasceu!