Deixar as palavras seguir o seu rumo Deixar-nos levar pelo silêncio talvez assim a gente proceda com aprumo Talvez assim se evite o inútil dispêndio...
Seguindo por uma tal conduta Orientadora dos nossos sentidos Talvez a gente fuja de qualquer disputa Que por força gera sempre inimigos.
As palavras rumadas são verdadeiras Não são apenas metáforas e seus jogos Não têm por missão ser feiticeiras Nem o seu objectivo será atear fogos!
Se cairmos no meio de uma combustão Ainda que por instantes muito breves As queimaduras podem ser leves Mas deixam marcas quer a gente queira ou não.
Andarmos apressados sem nexo É como caminhar-se à deriva Tudo se torna tão complexo... E a vida ainda mais opressiva...
Também na conduta humana há interstícios Entre os quais se alojam tendências perniciosas A vida não flui é uma massa viscosa Que se remove à custa de muito desperdício.
Pouco trazem as palavras à guisa de efeitos especiais Que após lidas apenas deixam escuridão As que dizem ao que vêm com exactidão Fazem das ideias as suas linhas principais.
Esquecidas as palavras mal vai o poema Se quem as leu não ficou com qualquer lembrança De qual teria sido o seu tema Se de amor de infortúnio ou de esperança.
Há filmes que são muito bons entre os peritos Mas o espectador ao vê-los é invadido pela frieza Não vive emoções nem dos felizes nem dos aflitos Sai da sala contagiado por um sentimento de tristeza.
Buscando como linha mestra o indefinido Acaba o criador por cair num poço sem fundo Do qual por ninguém poderá ser erguido Porque vive de costas viradas para o mundo!
O mundo mais não é do que um vidro reflector Em que revê cada pessoa a sua imagem Figuras impressas nele de falsa linhagem Provocam na humanidade contorções de horror...