Começámos com uma valsa
Mas outra seria a dança
A promissora esperança
Que me deu não era falsa.
Mal me aflorou um inchaço
Logo me agarrou na mão
Me levou a um terraço
E ajoelhou-se no chão.
De joelhos como quem resa
Uma devota oração
Arregaçava a sua presa
Descendo e subindo a mão.
Chegada a hora derradeira
Beijou a presa em brasa
Menteu-a dentro de casa
E roubou-lhe a sementeira...
Pondo os olhos na laranjeira
Que subia indo às laranjas
Vi umas cuecas de franjas
Numas pernas de feiticeira.
Admiti que não sabia
O que me estava a causar
Mas ainda quando descia
Surpreendi o seu olhar...
Avançando sorridente
Olhos cheios de convicção
Estava ali na minha frente
O caminho da perdição.
Apanhando a laranja caída
Como se fossem conchas na praia
Debaixo da sua saia
Outra fruta foi colhida...
Os seus dedos ardilosos
Já me faziam crescer
E os lábios sequiosos
Ajudaram-me a erguer.
Acolheu o crescimento
Com o peito ao meu colado
Fez um subtil movimento
E eu entrei no outro lado.
Abandonei no outro lado
O que já não me pertencia
Mas pouco tempo passado
O desejo se reacendia.
Um desejo depravado
A que por nada resistia
Irrompi pelo outro lado
Sem saber o que fazia...
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A tua cabeça desceste
Quando me sentiste ao rubro
A razão por que o fizeste
Nem quero ver se descubro.
Os teus lábios sedentos
Sobem e descem o mastro
Que sucumbe aos movimentos
E atrás de si deixo lastro.
Jamais me vinha à ideia
Que a tua boca travessa
Gostasse de ficar cheia
e de sugar a remessa.
Ajoelhas-te junto à cama
E só deixas de o trepar
Quando o mastro perde a chama
E eu já vi estrelas no ar...
Sob as nuvens quase brancas
E a luz difusa da lua
De costas e toda nua
Acolheste me entre as ancas.
Nada ficando por certo
Nessa noite de loucura
Vejo-me a sonhar desperto
Que vens à minha procura.
Anseio por viver de novo
O que tanto me enlouqueceu
E sentir que me dissolvo
No melhor que alguém deu.
Um rumor um sobressalto
O teu dorso que me anima
E já solto um grito alto
Tendo o meu peito por cima...
Por mim passaste a correr
E tu nem sequer me viste
Por isso fiquei mui triste
E a pensar no que fazer.
Julguei que tu já sabias
Como anda o meu bem querer
Mas se agora o contrarias
Como é que eu hei-de saber?
Vou passar à tua rua
Bem junto à tua janela
Quiça posso ver-te nua
Ao dar uma espreitadela.
Se ao espreitar deres por isso
Talvez tudo se decida
Caso tu me dês guarida
Dar-te-ei o meu compromisso!
Deixaste em mim a tua marca
No dia em que nós dois caímos
Naquela palha seca e farta
E felizes de lá saímos.
Olho para ti e revejo
Uma donzela afogueada
Em cima da palha deitada
Que morre e provoca desejo.
Ainda me recordo bem
Do teu arfar e dos gemidos
Quase abafavam os ruídos
Que chegavam de mais além.
Inefável esta memória
De que falo com meus botões
Verdadeiro dia de glória
Bálsamo nas desilusões!
Roubei-te aquele beijinho
Ao passares entre as sebes
Agora tu já percebes
Que ando preso plo beicinho.
O gosto da tua face
Que eu osculei com ternura
Nos meus lábios inda dura
Nem me parece que passe.
Não percebo por que evitas
Um novo encontro entre nós
Se avançar de mais tu gritas
Quando estivermos a sós.
Ande lá por onde andar
Os teus lábios tão carnudos
Morrerei se não beijar
Ao menos por uns segundos!
Tenho-te aqui bem apertada
Entre os meus braços que são teus
Sei que partes não tarda nada
Oxalá não seja um adeus.
Até breve é sempre o que dizes
Mas não voltas com brevidade
Ainda assim somos felizes
Nem que seja pela amizade.
Uma amizade bem robusta
Quando um no outro nós estamos
És tão versátil convenhamos
ser teu amigo nada custa.
É sempre muito o que me dás
Contigo entro num labirinto
Donde sair sou incapaz
De tão bem que por lá me sinto!
Passaste bem só por amiga
Até que estendeste a tua mão
E agarrando a minha ereção
Foi outra atua cantiga.
De ti o que sei são nadas
Da tua mão estou mais sabido
Ereções tão prolongadas
Ainda não as tinha tido.
A tua mão não é egoista
Por isso tanto lhe faz
Que eu procure uma outra pista
À frente em cima ou atrás.
Mas é ela a preferida
Com direito a cortesia
A tua mão atrevida
Jamais deixarei vazia...