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Não quero pensar em nada
De antes nem para a frente
Não vou trair a jornada
Por causa do pensamento.
Observando a cada instante
Com olhar contemplativo
Dou por mim que sou amante
Do que me faz sentir vivo.
Examinando uma flor
Em busca da procedência
Se antes trazia rancor
Já só prima pela ausência.
Aves com uma plumagem
De leda policromia
Dão ao meu rosto uma imagem
Que há muito tempo não via.
Ao zumbido duma abelha
De volta à sua colmeia
Muito mais que uma centelha
De harmonia me rodeia.
O coaxar de certa rã
Anunciando o seu apego
Assinala a vida sã
A que hoje em dia me entrego!
Apenas e só um desejo
Trago na minha vontade
Receber de ti um beijo
Seja de amor ou de amizade.
Haverá maior riqueza
Do que amar sem condição
E aceitar a natureza
Duma qualquer afeição?
Não não mil vezes não
Me grita o meu interior
Quer de amizade quer de amor
Seja benvinda uma afeição.
E assim os dias lá vão
Enfiados um a um
Não sei se dias em vão
Se dias com fim algum.
Iguais não serão penso eu
Ainda que repetidos
Diferentes são sempre o céu
Os silêncios e os ruídos.
E o vento tão imprevisto
E as nuvens que vão e vêm
sendo eu um pobre de cristo
Creio no que muitos crêem.
E a esperança renascerá
Apesar dos sobressaltos
Nenhuma vida é tão má
Que não tenha pontos altos!
Pensei que era só simpatia
Na tarde em que reparei
No que o teu olhar dizia
Quando os teus olhos fitei.
Ao que havia de ternura
Outra coisa podia ser
Mas logo chegou a altura
Em que fiquei a saber.
Andava triste mas agora
Que a ti dedico esta poesia
No meu intimo já mora
Mais animado nova alegria.
As tuas mãos tal como as minhas
Vão falando por nós dois
Enquanto estão apertadinhas
Não há passado nem depois!
Se tu me desses um sim
Em vez de dizeres não
Outro seria de mim
Dentro do teu coração.
Anda um homem caminhando
Sem saber para onde vai
Passa a vida suspirando
À espera dum outro ai.
Esses esquivos sorrisos
Que assomam na tua boca
Enfraquecem-lhe as raízes
E a minha afeição se apouca.
Imerso na solidão
Dos sentimentos vazios
Me envelhece o coração
Como envelhecem os rios!
Perante toda esta água
Tão azul e muito lisa
Se trazia alguma mágoa
Sinto que já se ameniza.
Sobre o espelho da baía
Gaivotas em ritual
Fazem muita gritaria
Como é de seu natural.
Atracado na foz do rio
Vai recebendo a sua carga
Um gigantesco navio
Ao passo que um outro larga.
Da imensa vastidão
Até onde a vista alcança
Me aconchega o coração
Uma brisa de esperança!