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VERSOS RIMADOS

Versos de amor, de crítica, de meditação, de sensualidade, criados ao sabor da rima e da métrica pelo autor do blog...

Versos de amor, de crítica, de meditação, de sensualidade, criados ao sabor da rima e da métrica pelo autor do blog...

O AVESTRUZ

Ostrich Photo

A bondade em demasia
Às vezes é desdenhada
Porque logra a fantasia
Quem de mal não pensa nada.

O homem bom é uma criança
De inocência sem maldade
Faz o bem sempre na crença
De que o bem deixa saudade.

Talvez que a c'roa de espinhos
Simbolize ela o amor
De quem passou tanta dor
Por mor de homens tão mesquinhos

Que sendo caso de escândalo
Só sabem pedir perdão
Mantendo no peito um vândalo
Em vez dum bom coração...

Quem o Menino Jesus
Recebeu indignamente
E ainda se acha inocente
Faz lembrar o avestruz.

A TALHE DE FOICE



Às vezes nas irmandades
Como no vinho toldado
Impuras por todo o lado
Boiam as cumplicidades.

Um amigo por irmão
Muito mais cedo que tarde
Há-de dar-lhe um apalpão
Sem que ela lhe chame alarve.

Como soía afirmar
De sua graça o Tasquinha
Só um burro e uma galinha
Não podem acasalar.

Aqui na minha cidade
Anciãos e anciãs
Diziam que era verdade
Que uma jovem pariu cães.

Talvez no mundo invertido
E mesmo assim com reservas
Certas crenças tão palermas
Possam ter algum sentido.

Estas ânsias permanentes
De homens usarem malinhas
Cujos naturais utentes
Eram só as senhorinhas

Vão baralhando o meu tino
E levam-me a duvidar
Se algo inda mais feminino
Não queiram vir a usar...

UM SILÊNCIO



Poderá haver silêncio
No ruído que o invoca
Numa constante tendência
Que soa de boca em boca?

Saberá estar sozinho
Quem de por si não entende
Que a cada passo depende
Do compadrio mesquinho?

Saberá bem o que diz
Quem repete sem sentido
Uma leitura infeliz
De livro que terá lido?

Terão parado no limbo
Da reflexão filosófica
Pulmões cheios de basófia
Como fumo de cachimbo?

A moeda que se lança
Ao ar sem cair no chão
Brilha na palma da mão
Do silêncio que não cansa...

UMA NOVA ESCRAVATURA



Sem quartel e sem guarida
E com armas desiguais
Perdemos cada vez mais
Nesta luta pela vida .

Os abutres nos rodeiam
Decidem a nossa sorte
E, nos condenando à morte,
Sequiosos se banqueteiam...

Os embustes são urdidos
De maneira natural
E até parece normal
Vivermos empobrecidos...

É tão escasso o nosso pão
E alienante é a cultura
Reina aqui nesta nação
Uma nova escravatura...

Nos trazem acorrentados
Ora sem elos de ferro
E,como que num desterro,
Nos mantêm deserdados ... 

TODOS TÊM O SEU FADO



Um homem não é de ferro
Nem pode cuspir pró ar
E sabe que o seu enterro
Alguém há-de ver passar...

O ferro nem sempre é aço
Todos deviam saber
Pra não fazer de palhaço
Como há quem ande a fazer...

Não são os metais ferrosos
Por mais que se diga bem
Os metais mais preciosos
Que o nosso planeta tem...

Não vale a pena fugir
Ao destino já traçado
Todos têm o seu fado
Não há quem se fique a rir...

A SEITA



Até quando continua
A minar-nos tal maleita?
É preciso pôr na rua
Esta malévola seita...

Como andava distraído
O votante que labuta
Ao dar maioria absoluta
Aos que o têm perseguido...

Estes são aqueles que outrora
Roubaram a trabalhar
Os reformados que agora
Voltam de novo a roubar!

Um imposto sobre outro imposto
O antigo complementar
Fora só um pressuposto
Do que nos iam roubar...

Se votarmos revoltados
Nos que antes nos revoltaram
Seremos sempre roubados
Plos votos que nos lograram...

AMANTES DO CONFORMISMO







"Vêiculos" é na RFM
E "alcoolémia" também
Como a nossa língua geme
Quando não a falam bem!

Tantas as atrocidades
Cometidas ao minuto
Quiça um curto-circuito
Fosse um acto de bondade...

Já se torna revoltante
Ouvir este pessoal
Que pronuncia tão mal
Palavras a cada instante.

Servos do brasileirismo
E do acento americano
Amantes do conformismo
Não combatem o engano.

O novo é sempre velho
E o português dialecto
Neste jovem aparelho
Que já nasceu obsoleto!
Acredito que o bom Deus
Se afaste constantemente
Duns tão parcos filhos Seus
Que O façam ficar descrente...

























O SAFARDANA



Entre os dias da semana
A Segunda é o pior
Afirma o safardana
Que é o mau trabalhador.

Nos dias do seu descanso
Esfalfa-se na rambóia
O trabalho é uma bóia
Que lhe serve de remanso.

Música ouve o dia inteiro
'Sperando o fim-de-semana
Que trabalho tão ligeiro!
O deste grande sacana.

Da Sexta já repousado
Diz que é o seu melhor dia
Se trabalhasse o safado
De cansaço falaria.

Mourejasse todo o dia
Exposto à chuva e ao Sol
Da Sexta-feira diria:
Lenta que nem caracol...

Os que no fim-de-semana
Fazem a vida mais justa
A Segunda não assusta
Como assusta o safardana!

O CONSCIENTE

 







Nem mesmo os mais imprudentes
Irão pra uma viagem
Sem que levem na bagagem
As coisas convenientes.

Em meio a quatro paredes
E numa fita magnética
Enleia-se numas redes
Uma cabeça patética.

Não será por altivez
Nem pra manter a distância
Que se fecha em tal mudez
Que até parece arrogância...

Bloqueia-a o consciente
Que a conhece muito bem
E vê que nela anda ausente
A ciência que convém.

Não difere do consciente
O cérebro que o contém
Se o cérebro está doente
O consciente também!

Só faz como gosta e sabe
E oferece o que tem
Quem o seu coração abre
E nada deve a ninguém!

JORNALISTAS E OUTROS


 

Como é que podem formar
Pessoas em jornalismo
Sem ensinar que o purismo
Se deve sempre evitar?

Nos meios de informação
Existe um grande míngua
Dos que falam em função
Do nível médio da língua.

Em vez de alcoolemia
Proferem "alcoolémia"
E a palavra leucemia
Dizem-na como "leucémia".

Ás abertos e acentuados
Jornalista ou locutor
Pronunciam sem pudor
Como se fossem fechados.

Num Programa juvenil
Afirmava uma jurada
Com ar todo senhoril
- Acho ela muito engraçada!   

Numa outra emissora
A uma criança também
Pergunta a moderadora
- Alimentas ela bem?


Falava num certo dia
Marcelo R. de Sousa
Duma qualquer "alérgia"
Mas não existe tal cousa!

O mui nobre professor
Cavaco Silva eu contesto:
Quando pronuncia "hónesto"
Comete um enorme error!

Até a mesopotâmia
Que se lê com dois ós mudos
Alguém leu "Mesópotâmia"
Avolumando os absurdos!

Vemos na 'strada a rolar
Carros em fila ordenada
E um locutor a afirmar
Que não há "fila" na 'strada!

Há trinta anos remotos
Poucos falavam tal mal
Como jornalistas e outros
Falam hoje em Portugal!

Se toda a gente é pessoa
Já bem falante é que não
Se não tem sintaxe boa
Nem boa tem a dicção!