Pensando que fosse mentira
O que me diz ao ouvido
Eu escuto-a distraído
Nem reparo que conspira.
Pouco a pouco se insinua
E vejo com estranheza
A debruçar-se já nua
De barriga sobre a mesa.
Se ignorava ao que vinha
Agora eu já sabia
Mas nunca imaginaria
Sobre a mesa da cozinha.
Vou-me acercando hesitante
Sem saber o que se aproxima
E ouçou-a dizer de rompante
Hoje quero-te mais a cima,,,
Como se jogasse na lotaria
Estava certo o meu palpite
E saciei um apetite
Que há muito me consumia.
Como quem não quer a coisa
Penetrei onde não devia
Não partindo logo a loiça
Era certo que ela consentia.
E satisfiz o meu vício
Nesse e em muitos outros dias
Como tudo o que tem início
Chegaram ao fim as tropelias.
É um vício inefável
Que comigo morrerá
Um prazer tão condenável
Quem nunca o teve dirá...
Já não se faz mais pão
Está fechada a padaria
Tens aqui a minha mão
Muito destra e macia.
Que maneira de falar
De pôr tudo em pratos limpos
De dizer que vai usar
Os cinco dedos famintos.
Não me deixei entristecer
Não era a primeira vez
Que sorrateira me fez
O que acabava de dizer.
Isto para não falar
No delírio que provoca
Quando a mão cede o lugar
E ela beija como louca...
Não era uma fantasia
Que julguei sonhar acordado
Ali estava deitada a meu lado
E era real o que ela fazia.
Puxando pôs-me inclinado
E encostou-se à minha frente
Fez-me sentir acossado
Por uma ansiedade pungente.
O pensamento se perturba
Quero evitar mas não posso
Em vez de me pôr em fuga
Afundei-me naquele poço.
Não sei se é mal ou bem feito
Mas quando me derretia
Dentro do forno mais estreito
Pensei que de lá já não saía...
De sorriso após sorriso
franqueaste-me os teus mundos
Agora perco o juízo
Quando não estamos juntos.
Perto de ti o sangue ferve
Longe de ti tenho frio
A lembrança só me serve
para ficar mais vazio.
Faltam-me a rosa primeira
que colhi no teu jardim
E o cravo atrás da roseira
que punhas em frente de mim
E os beijos que me davas
Onde mais te apetecia
E onde mais me agradavas
E de mim eu me esquecia...
Não ponhas o soutien
Nem cubras por baixo o regaço
Beijo os seios de manhã
Depois verei o que faço.
Antes de a noite cair
Lanço uma moeda ao ar
Será ela a decidir
Onde é que vou pernoitar.
Se acaso não te covém
Que seja a moeda a ditar
Será melhor alternar
E assim tudo acaba em bem.
Não estás com cara de riso
Preferes improvisar
mas podemos variar
Ainda mais se for preciso...
Num dia de Quinta-feira
Veio comigo uma amiga
Quero apanhar a espiga
Dizia toda brejeira.
Num muro deitou-se de costas
E ajeitou-me no seu regaço
E sem qualquer embaraço
Pôs os seus peitos à mostra.
Como que endemoniada
E liberta de receios
Afogou entre os dois seios
A espiga muito aprumada.
Olhou para mim e sorriu
Ansiosa a minha amiga
Nos seios roçava a espiga
E a espiga não resistiu...
Começámos com uma valsa
Mas outra seria a dança
A promissora esperança
Que me deu não era falsa.
Mal me aflorou um inchaço
Logo me agarrou na mão
Me levou a um terraço
E ajoelhou-se no chão.
De joelhos como quem resa
Uma devota oração
Arregaçava a sua presa
Descendo e subindo a mão.
Chegada a hora derradeira
Beijou a presa em brasa
Menteu-a dentro de casa
E roubou-lhe a sementeira...
Pondo os olhos na laranjeira
Que subia indo às laranjas
Vi umas cuecas de franjas
Numas pernas de feiticeira.
Admiti que não sabia
O que me estava a causar
Mas ainda quando descia
Surpreendi o seu olhar...
Avançando sorridente
Olhos cheios de convicção
Estava ali na minha frente
O caminho da perdição.
Apanhando a laranja caída
Como se fossem conchas na praia
Debaixo da sua saia
Outra fruta foi colhida...
A tua cabeça desceste
Quando me sentiste ao rubro
A razão por que o fizeste
Nem quero ver se descubro.
Os teus lábios sedentos
Sobem e descem o mastro
Que sucumbe aos movimentos
E atrás de si deixo lastro.
Jamais me vinha à ideia
Que a tua boca travessa
Gostasse de ficar cheia
e de sugar a remessa.
Ajoelhas-te junto à cama
E só deixas de o trepar
Quando o mastro perde a chama
E eu já vi estrelas no ar...