Andando de lugar em lugar Gozo de muita serenidade Impõe-se o que alcanço com o olhar Esmorece o que se opõe à felicidade. Milhares de passos que dou A meditação os acompanha Esses instantes dizem-me quem sou A incerteza não me acanha. Imensas casas em tantas ruas Avenidas e mesmo estradas No céu íngremes gruas Em cima de obras inacabadas. Jardins de relva e flores Cheios de árvores ornamentais Lançando no ar os seus odores Animam-me ainda mais. Setúbal Palmela Pinhal Novo Moita Lisboa Barreiro Alcochete Montijo A quem pelos seus caminhos se afoita belezas raras são fonte de regozijo!
Também na conduta humana há interstícios Entre os quais se alojam tendências perniciosas A vida não flui é uma massa viscosa Que se remove à custa de muito desperdício. Pouco trazem as palavras à guisa de efeitos especiais Que após lidas apenas deixam escuridão As que dizem ao que vêm com exactidão Fazem das ideias as suas linhas principais. Esquecidas as palavras mal vai o poema Se quem as leu não ficou com qualquer lembrança De qual teria sido o seu tema Se de amor de infortúnio ou de esperança. Há filmes que são muito bons entre os peritos Mas o espectador ao vê-los é invadido pela frieza Não vive emoções nem dos felizes nem dos aflitos Sai da sala contagiado por um sentimento de tristeza. Buscando como linha mestra o indefinido Acaba o criador por cair num poço sem fundo Do qual por ninguém poderá ser erguido Porque vive de costas viradas para o mundo! O mundo mais não é do que um vidro reflector Em que revê cada pessoa a sua imagem Figuras impressas nele de falsa linhagem Provocam na humanidade contorções de horror...
Os seus raios incandescentes Dão luz e calor à nossa essência Quebram as fortes correntes Que nos oprimem na sua ausência. A sua claridade expressiva Nos dias em que o não encobrem Enche de cor a nossa vida Mata as sombras que nos consomem. O Sol que já foi um deus Não deixa de ser uma mãe Que nos acolhe nos braços seus Sem exclusão de ninguém. Não o podemos comprar Mas tornamo-lo menos são Lançando gases no ar Que destroem a vital protecção ...
As rosas jamais serão Palavras bem alinhadas São flores que deixam no chão Pétalas que lhes foram arrancadas. O seu perfume suave Que se evola na atmosfera Tem as asas duma ave Em dias de primavera. De cores mais variadas Têm beleza infinita Quer em alegrete plantadas Quer em ramo preso com fita. Os espinhos bem despertos São seguros guardiões De mil segredos que os botões Só dizem depois de abertos. Os espinhos da minha roseira Fortes e pontiagudos Afastam a mão dos abelhudos Que dela muito se abeira!
Para os lados do poente Aonde o Sol se vai anichar O céu azul todo contente Bordeja as águas do mar. Um acto sempre renovado Desde manhã muito cedo Quando o mar ainda ensonado Abre os seus olhas a medo. Uma viagem quotidiana Sobre um trilho prateado Um bordo verde outro azulado Onde nem Sol nem mar se engana. O Sol que ao meio dia Está mais perto do céu Não abandona a baía Do rio Sado que o elegeu. Atrás da serra refulgente Longe da vista dos dois Inclina-se o Sol poente Que há-de voltar horas depois!
Somente as coisas profundas Enchem a alma ou lá o que é Lavam as chagas imundas Emprestam razão à nossa fé. Ali do meu lado direito Há uma escada sempre a subir Leva a um cenário perfeito Que ninguém pode esculpir. Do seio da natureza Floresce o belo universal Só entende a sua beleza Quem não sabe fazer-lhe mal. Os olhares que ficam presos Numa araucária que rompe o ar Vêem no céu os relevos Que as nuvens sabem desenhar. E o castelo de Palmela Que acaba de entrar em cena Fecha com brio a tela Esboçada por mim neste poema! Mas à noite a cidade fica Morta por despovoada E empobrece a caminhada Que à tarde fora tão rica. Na imensa solidão Dos passeios desnudados caem-me os olhos no chão Tristonhos e angustiados...
A longevidade sim a longevidade A dos anos é dessa que se fala Sem quaisquer laivos de ambiguidade Estar vivo é o sonho que nos embala. A longevidade tem muitos ramais Que ao viver trazem outra dimensão Se é verdade que somos animais Também o é que temos a razão. Se não lesse em toda a minha vida E não escrevesse ainda que bem ou mal Os anos seriam ilusão perdida Casca de noz em noite de temporal. Caminharia por outras estradas Diversas das que percorro hoje Não teria as memórias embalsamadas que guardo no meu cérebro-alforje. Manter e preservar a raça humana Voltar de viagem sem saber onde se esteve Ver apenas o que a superfície emana: Viver não é assim coisa tão leve...
Entre as palavras que ouço Algumas me dizem lonjuras Outras inspiram loucuras Mais próprias de quem é moço. E suspiro do fundo do ser Num tremor que trepa pela espinha Uma ânsia pelo que possa ou não acontecer É a força que sempre me encaminha. E encontro sem procurar As pequenas coisas da alegria Que enchem o meu peito do ar Que me alimenta a fantasia. Um objecto que se imprime na película A curiosidade de vê-lo revelado... Jamais a pessoa é ridícula Por viver com o acaso de braço dado!
A Natureza tem pernas Mais perfeitas que ninguém Os olhos que são luzernas Enxergam-se muito bem! As palavras que dela falam Não a têm dentro de si São lindas mas não igualam As belezas que nela vi. O poema da Natureza Na Natureza se encerra Não se transmite a surpresa Que se encontra numa serra. O brilho dos raios solares A luz reflectida da lua São fenómenos milenares Deslumbre que não se insinua... As verdades de La Palisse Só as não disse quem não quis Poemas que a Natureza diz São poesia que Deus predisse!
Quando me chamam maluco Nunca sou surpreendido Porque de são e de louco Todos nós temos um pouco Nem sequer fico ofendido. E se dizem que sou doido Nunca faço espalhafato Nem a quem diz contrario Apenas olho e me rio Na cara do insensato. Sou tão são e sou tão louco Como qualquer criatura Somente um pobre coitado Que se ache sempre ajuizado É maluco e não tem cura. Dizem certos relatórios Que entre nós em Portugal Há muitos analfabetos E outros que são pouco espertos Mas é mentira afinal... Somos um povo de sábios Que a olho nu sabem ver Quem é louco ou tem juízo E nem sequer é preciso Saber bem ler e escrever!!!