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VERSOS RIMADOS

Versos de amor, de crítica, de meditação, de sensualidade, criados ao sabor da rima e da métrica pelo autor do blog...

Versos de amor, de crítica, de meditação, de sensualidade, criados ao sabor da rima e da métrica pelo autor do blog...

A PAZ



Se a nobre paz fosse um dom
Próprio de todos os corações
Como isso seria bom
Para povos e nações.

Mas a paz matam-na as cobiças
Que grassam por toda a parte
Não havendo engenho e arte
Que lhes quebrem as dobradiças.

Muitos vêm lutando por isso
Raramente o têm conseguido
Surge sempre um fatal enguiço
Que não pode ser vencido.

Não aprendemos com os animais
Que agem de modo natural
Mansos ferozes mas leais
Ao que os homens chamam ideal.

Rastejamos não sendo répteis
Matamos por cobardia
E ainda temos a ousadia
De julgar que não somos débeis!

LISBOA




Lisboa de lés a lés
Tenho vindo a percorrer
Caminho sobre os meus pés
E assim tudo posso ver.

Avenidas Duque de Ávila e Loulé
Marquês de Pombal na sua Praça
Freguesias de São João e da Sé
Santa Isabel São Mamede e da Graça.

Castelo Carmo Amoreiras
Santa Engrácia Jerónimos Encarnação
Muitas visitas estranjeiras
Vêem Lisboa com admiração.

Estações de Roma-Areeiro
Campolide Sete Rios Entrecampos
São partidas do meu roteiro
De tantos dias que não sei quantos.

Todas as zonas já percorri
Mas a rota continua
Agora de rua a rua
Vejo o que ainda não vi!

O ENTENDIMENTO



Calhaus rolados na orla da praia
Ondas batidas pelo vento
Noites passadas ao relento
Claras manhãs quando o sol raia

Esbeltos voos aquilinos
Pairando na sua área
Labuta humana diária
Curiosidade no olhar dos meninos

Canto do galo matinal
Anunciando a alvorada
Água que foge da mão fechada
E no chão deposita sal

Olhos banhados da natureza
Ledas correrias de crianças
Acções cheias de grandeza
Têm na vida valor de fianças.

O entendimento e a fiabilidade
Não condizentes colidem
Compreendem a realidade
Apenas quando coincidem.

O CURSO DA VIDA



Uma libelinha esvoaça num charco
Ressoa o coaxar insistente de rãs
Nem sempre a beleza natural abarco
Distraído de tantas coisas vãs.

Folhas secas já acastanhadas
Cobrem a calçada de ruas e largos
A natureza dá-nos muito mais que os encargos
Que nos pesam sobre as costas alquebradas.


O arrolho de um riacho que corre
Em estações de águas pluviais
O curso da vida que não morre
Alheio de homens e de animais.

A lua que à noite nos ilumina
Mostra sombras que nos falam de infinito
À sua luz é tudo tão bonito
Ouro saindo de uma fecunda mina.

Os meus olhos pestanejam felizes
Descobrindo esplendor em toda a parte
Montes e vales são as raízes
De todas as grandes obras de arte.

DIVAGAÇÃO



Gostaria de chegar ao cume
De algum feito que valesse a pena
Não ser só um ente de cio e ciúme
Tenho alma que não se quer pequena.

O meu juízo não é lá muito destro
Tantas vezes me arrasta mesmo que eu não queira
Por mais que grite não ouve o meu protesto
Faz da minha vida uma ratoeira.

As ruas largas parecem estreitas
Em dias escuros mesmo à luz solar
Para curar esta pecha não há receitas
Abarca mal a vida o meu radar.

Nem sempre a luz do sol me desampara
Vivo dias que são muito claros
Os bons momentos não são assim tão raros
Mas é nos piores que a gente mais repara.

Pensar demais não é bom conselho
Não meditar é viver sem aviso
O saber que nos é mais preciso
Não encontramos em qualquer evangelho.

Sigo num comboio de calmas viagens
Perscrutam-me pinheiros e eucaliptos
Ciosamente erguidos de ambas as margens
Por mim semelham senhores dos aflitos.

Por baixo passa o estéril leito dum ribeiro
Que traz à memória a água preciosa
De uma estação mais pluviosa
Não fosse este Outono um fruto de sequeiro.

Alcantilado da ponte sobre o Tejo
Vou chegando finalmente a Lisboa
Para trás ficou a nostalgia que magoa
Deixo-me envolver pelo deslumbre que revejo.

Vou a Sacavém por camarate
caminho pela rua dos seus bombeiros voluntários
Embora a princípio achasse um disparate
Somar mais este percurso aos meus itinerários...

SE...



O Sol de frente banha o meu rosto
Ergo os olhos e os seus raios já não suporto
O brilho que antecede o desgosto
Do amor que era luz e agora está morto.

A brancura mais alva das manhãs límpidas
Perde a sua claridade do sol que se esconde
Penetra a inquietude até às fimbrias
Chega a dor não se sabe bem donde.

Se eu fosse um grande poeta
E bons os versos que fizesse
Seria de ouro a minha caneta
E deles gostaria quem os lesse.

Se eu tivesse o jeito acabado
Para escrever que não a martelo
Teria telhas o meu telhado
A minha casa um ar mais belo.

Se a vida fosse ao contrário
Começasse onde chega ao cabo
Seria outro o meu rosário
Talvez até matasse o diabo.

Se a existência fosse um trajecto
De sonhos sempre a crescer
Partiria num barco discreto
Que zarpasse ao amanhecer.

Se não cantasse os dissabores
Morrendo eu morreria
Mais não são que os rumores
De passos subindo a escadaria....

A DISTORÇÃO


A mim... ninguém me incomoda
Incomoda-me não conseguir aprender
Não qualquer coisa que esteja na moda
Mas sim algo que seja preciso saber.

Muita gente de si mesma anda a fugir
Fugindo de quem lhes é mais perfeito
São nadas as coisas que os fazem distrair
O nada parece-lhes algo sem defeito.

O analfabetismo a iletracidade
Sobranceiros como que os esquecem
Convivem com a sua precaridade
As suas vidas raramente amanhecem.

Un túnel impenetrável e vitalício
Tudo põe de pernas para o ar
A má cópia torna-se um vício
Que impede as pessoas de sonhar.

Um mundo sem leitura sem escrita
Umas aves de asas sempre encharcadas
O desconhecimento lança enormes arcadas
Sobre a distorção que tal gente habita...

O AMOR?



Se o amor fosse dizer palavras bonitas
Se o amor fosse querer os teus beijos
satisfazer os meus desejos
Quando o não é o que replicas...

Se o amor fosse o egoismo
Que no fundo é sempre o que impera
O amor que bom era!
não o ensombraria o cepticismo...

O amor seria sempre certo
Sem altos nem baixos só a direito
Bolo de natas todo coberto
em que o veneno da gordura não vem a respeito ...

O amor sem atropelo
Sem disfarces nem desavenças
Quer na saúde quer nas doenças
O amor como ele seria belo...

Não será o amor a utopia
Da felicidade que tanto se almeja
Não será o amor a eufemística fantasia
Que acima de tudo se deseja?

AS GRANDES MARAVILHAS



Serão as grandes maravilhas do mundo
As obras de arte e as arquitetónicas
Ou as emoções que perpassam num segundo
Imperceptíveis e platónicas?

A dor na sua própria realidade
São palavras que falam duma qualquer ferida
O bem-estar flutua numa tranquilidade
Que por nós passa despercebida.

Caminhando pelo prazer de andar
Em lugares que por nós não foram ainda vistos
São muitos os indizíveis momentos benquistos
Que nos povoam e se alegram do nosso vagar.

A vida envolve-se de mantos belos e raros
Que são desconhecidos das altas velocidades
Não existem elogios falsos nem falsos reparos
Caem no abismo as feiras das vaidades.

Em tempo de aperto moitas e canaviais
Sanitários de orifício para moedas
São poiso das necessidades vitais
Que ganham foros de grandes proezas...

A CONDUTA



Deixar as palavras seguir o seu rumo
Deixar-nos levar pelo silêncio
talvez assim a gente proceda com aprumo
Talvez assim se evite o inútil dispêndio...

Seguindo por uma tal conduta
Orientadora dos nossos sentidos
Talvez a gente fuja de qualquer disputa
Que por força gera sempre inimigos.

As palavras rumadas são verdadeiras
Não são apenas metáforas e seus jogos
Não têm por missão ser feiticeiras
Nem o seu objectivo será atear fogos!

Se cairmos no meio de uma combustão
Ainda que por instantes muito breves
As queimaduras podem ser leves
Mas deixam marcas quer a gente queira ou não.

Andarmos apressados sem nexo
É como caminhar-se à deriva
Tudo se torna tão complexo...
E a vida ainda  mais opressiva...