Estou tramado Como sói dizer-se Um imenso amontoado de madalhas a debater-se Gera tanto zumbido Que já não quero fazer nada Deixa a vida sem sentido E a alma desenraizada Medalhas sobre medalhas Caídas arremessadas Como lâminas de navalhas Cortam a vontade amortalhada Saí à rua e finalmente Vi que o nada de nada É fazer o mesmo constantemente Em troca duma mesada As aves preparam a sua comida Constroem os seus ninhos Tratam sozinhas dos filhos Tem sentido a sua vida...
Onde não existe nada para fazer Há mais tempo para rezar Reflectir sem ser a correr No sentido que à vida só Deus pode dar!
A tua casca de noz Há muito tempo rompeu As fronteiras duma foz E lá no mar se perdeu. Mundo novo ia buscar Só o velho encontrou Morreu no fundo do mar A coragem que a levou. Tudo o que Deus nos destina Não pode o homem mudar O néscio que desatina Acaba por se afundar. Nem todas as aves voam Muito alto pra não cair A intenção pode ser boa Mas o destino trair. Todos os sonhos são altos No seu justo realismo Grandes de mais são os saltos Que nos lançam no abismo! São os homens mais brilhantes Aqueles que lêem bem Nas estrelas cintilantes O amor que Deus lhes tem!
Um simples risco num carro Não impede a sua marcha Mas dá azo a reparo E não deixa de ser mancha. A ferrugem deteriora E o efeito repelente À vista de toda a gente Nunca mais se vai embora. Um fio de água que corre Fugidio da censura Não derruba uma torre Mas causa alguma fissura. Uma voz que se alevanta Por si só não muda um rumo Mas rompe um pouco o negrume Deixando uma marca branca. Um hodierno forte muro Pra impedir de passar É baralho, no futuro, De cartas a desabar! Direito por linhas tortas É certo que Deus escreve A quem sofre o que não deve Abre Deus as melhores portas!
Sem reverso não há medalhas Mesmo assim é com surpresa Que o recebem os canalhas 'Squecidos desta certeza. Julgam poder silenciar Para sempre quem 'spezinham Nem chegam a supeitar Das medalhas que se avizinham... Calaram minhas mensagens Mas os blogues felizmente... Não muita porém há gente Que lhes dá umas passagens. O casebre da censura Por eles também passou Seja ou não quem me calou O reverso ganha altura... Ouço um tilintar imenso Na minha imaginação Medalha lançada ao chão Por quem lhe viu o reverso.
"Quem prende a água que corre É por si só enganado O ribeirinho não morre Vai correr para outro lado." António Aleixo
Queria saber 'screver Coisas que fossem mais belas Mas só consigo dizer Umas simples bagatelas. Contudo ainda me atrevo A falar de tudo um pouco São para não ficar louco As coisas simples que escrevo. De juízo atrofiado Não teria a vida gosto Tem sentido figurado Muito do que tenho exposto. As frases mais expressivas Que roubasse do alheio Trariam ao meu paleio Só ideias abusivas. Ao trilhar este caminho Não cairei no abismo Sou avesso ao cinismo Nego o rancor escarninho.
Decorrem lentos os dias Sem que me ocorra uma ideia Que fale de fantasias Ou de algo que me chateia. De repente duas linhas Surgidas assim do nada São as palavras certinhas Para nova versalhada... Não vá quem leia pensar Que os versos que ando a fazer Sejam de homem a sonhar Que é um poeta a valer. Só por escrever como eu Versos certos e rimados Vate dos quatro costados Ainda ninguém nasceu. Não seria, porém, obtuso Dizermos que é um poeta Quem não saiba fazer uso Como eu faço da caneta?
Passa o tempo a correr Passa sem darmos por ele E nem conseguimos ver Que prá morte nos impele... Corre o tempo sem parar Não temos tempo pra nada Nem sequer para abrandar A marcha desenfreada ... No correr do tempo gira O que na vida se passa E se um tempo não se tira Não se evita uma desgraça... O tempo é tão traiçoeiro Que se não damos por isso Há-de virar o feitiço Contra o próprio feiticeiro... O tempo corre veloz É preciso estar atento E tirar do pensamento A velocidade atroz... No tempo tudo se gera Nasce o novo e morre o velho E muita coisa se altera Quando se ouve um bom conselho ...
Sou um homem muito triste E de alma bem comovida Em dias da minha vida Desalento em mim existe. O coração por mim chora Em lágrimas esvaído O quanto tenho sofrido Generoso não ignora. Amigo na desventura Consolador sempre atento Meu coração meu alento Nos momentos de amargura. Alegres ou de pesar Há versos na minha mente Qundo o meu coração sente Que é tempo de me inspirar. Dizendo para comigo Os versos a cogitar Esta minh'alma alegrar Por vezes assim consigo...
Da discussão nasce a luz! O "eureca" da descoberta! A nota sublime do executante! Discute-se com discordâncias e concordâncias Sem condescendências Que semelham a esmola dada ao pobre Que perpetua a fome milenária Dos sempre repetidos indigentes... Discute-se com recuos e avanços No sentido da perfeição Sem condescendências! Não condescendem O médico nos seus diagnósticos O cientista nas suas experiências O compositor no arranjo das suas notas O escritor na urdidura da sua narrativa O pintor Que busca combinações cromáticas originais O cantor Que trabalha a colocação da sua voz O pianista Que aperfeiçoa a sua técnica de execução... O ser vivo Que por força quer nascer O sorriso Que se desenha nos lábios duma criança O melro no seu trinado mavioso A rosa no seu abrir triunfante O poeta Cujos poemas tornam o verso livre ou tradicional... O navio Que sulca as águas salgadas O vento Que nunca perde o seu sopro O Sol Que brilha e nos aquece O mar Que nos traz a brisa fresca A Lua Que à noite nos ilumina... Discute-se sem condescendências Que andam de braço dado com o silêncio Que forçosamente guardam O triste Que não tem nada para dizer E se refugia na sua mudez de granito O cadáver lívido Que jaz no ataúde O desesperado Que troca a vida pela morte O surdo Que não responde à pergunta Que não ouve O mudo Que se exprime em linguagem gestual Os oprimidos Que não têm voz Os poemas surdos-mudos Que o verso livre engendra... As imensidades rochosas!
No enlevo da miragem Se atraiçoa o pensamento Qual traição da mariagem Provocada pelo vento... Como a água que deslumbra Num oásis do deserto O pensamento se afunda Se não estiver bem desperto. Uma veloz caravela Que desliza sobre o mar Navegando a toda a vela Sem que possa recuar É o nosso pensamento Que nos abana e conduz Qual rabanada de vento Que agita e apaga a luz .