![]()
O engano não é capricho Que alguém tenha por amigo A não ser um certo bicho Que traz a rádio consigo...
Os concertos musicais Fazem bem a quem 'scutar São sintomas anormais Falar deles sem cessar ...
Gosto de ver futebol Seguindo-o sem a cegueira De empunhar uma bandeira Ou usar um cachecol...
Na área de humanidades Salvo raras excepções Esbatem-se nulidades De irrisórias aptidões...
Os dias surgem iguais A quem faz o de que gosta Nenhum deles é lagosta Mais gostosa que os demais...
Muitos têm o condão De nos lembrar a raposa Que as uvas longe do chão Despreza feita manhosa | Uma louraça atractiva Passará despercebida A quem prefere as morenas E como sempre na vida Raras são as coisas grandes Muitas as outras pequenas
Se a fugir tu permaneces Do que te mata a cabeça Não contes que ela obedeça À medida que envelheces...
Se toda a vida não cresci No que respeita ao mental Também não envelheci Ainda sou jovial...
A solidão acompanhada De aparente companhia É solidão mais vazia Que a solidão isolada...
|
![]()
Inda menino de berço
Aos meus ouvidos chegavam
As cantiguinhas em verso
Que ao redor de mim cantavam.
Já então eu aprendia
A falar também em verso
Esse falar de magia
Que enquanto viver não squeço .
Do primário os versinhos
Que às vezes ouvia e lia
Iam abrindo os caminhos
Ao rimador que crescia.
E sempre pla vida fora
Ouvindo e lendo poesia
Fui alcançando a mestria
Dos versos que faço agora...
É ter cabeça pequena
Julgar saber poetar
Sem ter ouvido cantar
Ou dizer qualquer poema...
![]()
Na primeira escolaridade
Acompanhando o meu filho
Previ que vinha sarilho
De tanta precaridade...
De há muito que nas escolas
nos primeiros quatro anos
atafulham as sacolas
e cultivam os enganos:
Nesses anos do ensino
Dão muito mais atenção
Ao poder de observação
Que ao poder de raciocínio;
A tabuada que exercita
Não fazem saber de cor
Na leitura e na escrita
Não põem muito rigor;
As quatro contas primárias
Mal ensinam a fazer
Não cimentam o saber
Destas e outras coisas várias;
Sendo pouco exercitadas
A solucionar problemas
Estas crianças pequenas
Ficam mal apetrechadas;
São crianças mais espertas
No que podem observar
Porém no raciocinar
São crianças mais incertas!
![]()
Na minha mente fervilham
Ideias em desfilada
Umas vezes elas brilham
Outras não me dizem nada.
Com elas posso falar
Sem elas fico calado
Com elas vivo a sonhar
Sem elas 'stou acabado.
As ideias se atropelam
Confundindo e esclarecendo
Umas delas se revelam
Umas outras vão morrendo.
Esta ideia não tem luz
Só aumenta a escuridão
Aquela que mais reluz
Vai trazer a solução...
Uma ideia que me leva
Devagar devagarinho
Repudia quem se atreva
A barrar o seu caminho...
![]()
Ao despojado da sorte
Só lhe resta caminhar
Indo ao encontro da morte
Que não cessa de espreitar .
Se arrasta com corpo e alma
Pelas ruas da amargura
Dum pouco de paz e calma
É do que ele anda á procura .
Nem marés nem tempestades
Alteram o seu destino
Faltam as boas vontades
Do coração peregrino ...
A sua vida funesta
Inda causa repugnância
Á pessoa desonesta
Toda cheia de importância .
A boa sorte por si só
Não é tudo o que perdeu
Recusam-lhe pena e dó
Porque ainda não morreu...
![arvore.jpg]()
Em dias de Primavera
Aqui sentado em sossego
Neste jardim de quimera
Eu comtemplo o arvoredo
E as folhas daquela árvore
Ao vento sempre agitadas
Quais ondas dum mar suave
Á luz do sol prateadas
E o verde sempre crescente
E as voltas que os ramos dão
E o andar de tanta gente
Entre esta vegetação
E as crianças a gritar
Pulando rindo e correndo
E o modo peculiar
Como a brincar vão crescendo.
E a força da natureza
Enchendo o meu coração
De tanta e tanta beleza
Levanta-me os pés do chão ...
Abel
Uma vida mal fadada
É uma via sem norte
Desde logo condenada
À pura falta de sorte.
Nos destinos sem destino
Só há luzes apagadas
As vidas são só uns nadas
Neste mundo peregrino.
Nos labirintos da sorte
Tudo corre bem ou mal
Corre a vida e corre a morte
Num passo igual desigual.
Remir o azar com a sorte
Ludibriando o destino
É como fugir da morte
Ou ficar sempre menino.
O tempo já não decorre
Ora pára ora voa
E nenhuma coisa é boa
Nada nasce tudo morre.
A pouco e pouco se extingue
O sopro que a vida dá
Já não há nada que vingue
O nada é tudo o que há.
Já enxergo o precípicio
Não fujo não vale a pena
Que alma ficou pequena
E a vida é só suplício.
Se um dia fizer um mapa
Que simbolize a tristeza
Pode servir-lhe da capa
Toda a minha natureza.
Por sobre um rio gelado
A minha tristeza em festa
É trenó por cães puxado
Através duma floresta.
Não sei se é angustiante
Ou se apenas insulúvel
Esta vida tão volúvel
Que se exaure num instante.
Procurar em Deus Jesus
Uma forma de refúgio
Talvez seja um subterfúgio
Talvez seja uma luz.
![acorrentado.jpg]()
Não sei pra onde me levam
As palavras do meu fado
Só sei que em mim não sossegam
Nem me deixam sossegado.
Segredam-me a toda a hora
Nunca me põem de lado
Nunca me deixam de fora
As palavras do meu fado.
Correm sempre à brida solta
Chegam sempre a todo o lado
E não precisam de escolta
As palavras do meu fado.
Quando ficam descontentes
Dizem-no em tom exaltado
Não se prendem com correntes
As palavras do meu fado.
Meus ouvidos não são surdos
Nem eu vivo acorrentado
Reagem contra os absurdos
As palavras do meu fado.
A boa hora de agir
Chega no momento asado
Ninguém poderá fugir.
Às palavras do meu fado.
Num tempo cadenciado
Penetram as consciências
Em nenhum lado há ausências
Das palavras do meu fado.
De carácter susceptível
Há quem se ache mal visado
Ninguém fica inacessível
Às palavras do meu fado.
O fado da minha vida
É um destino fadado
São uma vida vivida
As palavras do meu fado...
![penhasco.jpg]()
Subi a um alto penhasco
E de lá olhei pró fundo
E vi que no nosso mundo
O mal tem um campo vasto.
E também vi a pairar
O tão insensível luxo
Que leva no seu repuxo
Tudo o que pode arrastar.
Vi o trepar insaciável
Em que tudo se atropela
E a vida se nos revela
Por vezes abominável.
Vi homens feros insanos
Mais que um animal selvagem
Destruir a boa imagem
Dos valores mais humanos.
Vi homens muito maiores
Que têm a alma etérea
Que lutam contra a miséria
Que seguem outros valores...
Será condescender o fingimento?
Ou será, plo contrário, a franqueza
Que promove a procura da clareza,
Essa força motriz do entendimento?
Será condescender o aviltamento
Da falsa concordância sem nobreza
Em vez do discordar com a justeza
Que leva mais além o pensamento?
A dissimulação é tão estulta
E o seu efeito tão mau conselheiro
Que causa uma legítima repulsa...
Discorda bastante o homem, prisioneiro
Da sua convicção que não expulsa,
Mas ao condescender é verdadeiro!!!