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VERSOS RIMADOS

Versos de amor, de crítica, de meditação, de sensualidade, criados ao sabor da rima e da métrica pelo autor do blog...

Versos de amor, de crítica, de meditação, de sensualidade, criados ao sabor da rima e da métrica pelo autor do blog...

À BEIRA DO SADO



Estou aqui olhando o mar
Rio da minha cidade
Não sei quem o fez zangar
Com tanta animosidade.

Ondula-se numa fúria
Sob as rajadas do vento
tem uma cor de penúria
Que lhe vem do firmamento.

Ontem era azul marinho
E sob os raios solares
Prateava um caminho
Dos que encantam os olhares.

Amanhã já sem borrasca
Nova planície será
E a alegria que nos dá
Cada dia mais se alastra.

Amo o branco rendilhado
Desta baía tão linda
À beira do rio Sado
Eu nasci e vivo ainda!

VOLTO SEMPRE



Uma placa de cimento
A superfície do mar
Porque o céu está cinzento
E não há vento a soprar.

Nestes tons cinzento e branco
Foz e abóbada celeste
Têm um terceiro encanto
Entre o brilhante e o agreste.

No parque as árvores nuas
E as de folhas persistentes
Contam as histórias suas
Aos ouvidos coniventes.

Plátano álamo cedro
Acácia jacarandá
Dizem-me que ainda é cedo
E eu vou ficando por cá.

Um grande barco parado
Serve de fundo ao jardim
E um quadro inusitado
Assoma em frente de mim.

Assim se renova a vida
No rio e à sua frente
Até já na despedida
Quer dizer que volto sempre!

PÔR DO SOL



Jamais estive na Arábia
A ver como o Sol se põe
Mas aqui atrás da Arrábida
É tão lindo que até dói.

Tantas vezes o admiro
Se as nuvens o não  escondem
E o ocre e o rosa respondem
Ao meu profundo suspiro.

As nuvens formam figuras
Cinzentas e coloridas
Algumas tão definidas
Que semelham criaturas.

Nesta mistura de mar
Nuvens e Sol quase posto
Se em mim trago algum desgosto
Me esqueço de o recordar.

E o crepúsculo que segue
À frente da noite escura
Não deixa de ser alegre
Após tão grande ventura.

Não há um maior fascínio
Que a maravilha solar
Que nos sai sem escrutínio
Sem ser preciso jogar.

Amanhã pela tardinha
aparecendo de novo
A luz do Sol que é rainha
Encha os meus olhos de fogo!

 

DE BEM VISTO



Guardar em prosa rimada
O que se vê diz ou sente
É uma coisa de nada
Ainda assim exigente.

Deixemos a literatura
Tão fora do nosso alcance
Fiquemos pla urdidura
Que se alcança num relance.

Dar a um simples registo
Que na mente se detém
Um certo ar de bem visto
Não prejudica ninguém.

Se as distâncias são oblíquas
Desfazem-se na escada
Na muralha incrustada
Cofre de acções algo iníquas...

As águas estão crescidas
Preia-mar no rio Sado
Barrentas de tom rosado
Que de areias remexidas...

O Sol procura furar
Entre as nuvens vespertinas
Sobre a relva a debicar
Correm melros de batinas!

POETA TALVEZ



Um poeta pode bem ser
Quem aventa um pensamento
Que não cai no esquecimento
Daqueles que o sabem ler.

Um ouriço aveludado
Que em si traz uma castanha
Esquecido o razoado
Pouco fica da resenha.

Um castanheiro descrito
Nunca será descoberto
Quer se passe longe ou perto
Quer se leia o que foi dito.

As palavras sem mensagem
Belas embora não são
Mais que uma lábil aragem
Que não se prende na mão.

Uma árvore afinal
Não se descreve jamais
Em Viagem a Portugal
Do que eu diz quem sabe mais.

A poesia não há-de ser
Beleza só de aparência
Nem fala que traga ausência
Daquele que a escrever!

UMA VELA?



Não uma duas três velas
Muitas mais eu acendi
Feneceram todas elas
Nos trilhos que percorri.

Germinam as falas mansas
Do lobo pele de cordeiro
Que matam as esperanças
Das gentes de corpo inteiro.

Velas  que Gandhi acendia
Não serviram de lição
Quando a Índia se cindia
Nela mesma e Pasquistão.

Caxemira e Bangladesh
São lições que não se aprendem
Só o ódio recrudesce
E as velas já não se acendem.

O nuclear de costume
Acrescenta a maldição
As velas perdem o lume
Mais se adensa a escuridão.

Nisto da criatividade
A verdade é nua e crua
Cada qual terá a sua
Como na própria verdade!

TERRA MUTILADA



Contemplo a imponente serra
Recoberta de pinheiros
Verdejantes e altaneiros
E empatizo com a terra.

Vejo porém  alarmado
Costas viradas à serra
Tijolo e cimento armado
Roubar raízes à terra.

Sangram-na por todo o lado
Vivendas ou que for
Terra chão incultivado
Já não a rega o suor...

E as árvores lá nas alturas
Não logrando ver o mar
Como que são criaturas
Que mal podem respirar.

Pela distância entre as árvores
E a viva água salgada
Corre a frieza dos mármores
Geme a terra mutilada...

POR ENGANO



Se os frutos nunca consomes
Da árvore que tanto abanas
Nem à sua sombra dormes
A quem é que tu enganas?

Nada é mais abençoado
Do que olharmos mais além
Caminhar por todo o lado
Sem fugirmos de ninguém...

Se a lua pouco blilhou
No dia em que tu nasceste
Não fui eu quem lhe roubou
A luz que não recebeste...

Não sou teu gémeo germano
Não te devo o que não és
Nem tiro chão a teus pés
Não me acuses por engano...

No rumo que as nossas vidas
Tomaram tão desigual
Se coisas há que estão mal
Não serão a mim devidas!

GRAÇA SEM GRAÇA



Atravessando uma estrada
Avistei uma sobrinha
Que logo ficou parada
A olhar pra donde vinha.

Outro rumo não convinha
Tão pouco voltar a atrás
Que ganhou minha sobrinha
Perturbando a minha paz?

De nome chama-se Graça
Mas não tem graça plausível
As manobras que ela faça
Pra se tornar invisível...

Só faltava a nulidade
Dar-se uns ares de importância
Jamais a mendicidade
Será fruto da abaundância.

Tanto fala o mudo rico
Como o mudo vagabundo
Também pertence o penico
Aos objectos deste mundo...