Acreditei na tua promessa E voltei para onde devia Não levava muita pressa Até parece que pressentia. Quem torto nasce tarde ou nunca se endireita De pequenino é que se torce o penino Mas a bondade por vezes não suspeita Das falsidades do cretino. Não passaram muitos dias Até que se desse o desenlace Sem que eu sequer suspeitasse De tantas patifarias. Talvez por isso os animais Domésticos e até selvagens Nos conquistam muito mais Do que certas personagens.
Um riacho no seu arrolho Lembrou-me que tinha sede Debrucei-me um tanto a medo O caminho debaixo de olho. Tranzendo a espingarda ao ombro Um caçador se aproximou E para meu assombro de rompante perguntou: --- Que fazes na minha herdade O forasteiro atrevido? --- Para dizer a verdade Digo-lhe que ando perdido. venho fugido da guerra Que não sei se já acabou Quero ir para a minha terra Que desta guerra eu não sou. Dá cá um abraço, irmão As guerras também não me levam Que defendam a nação Os que com ela se governam!
Que importa o que diga a cambada Quer me tire ou dê valor Se de mim não dissesse nada Isso é que era muito pior. Muitos me dizem que sou Aquilo que eles não serão Mas nenhum ainda reparou Que não lhes digo o que são. Primeiro por cortesia E ainda que eu quisesse Verdade que não sabia O que de justo lhes dissesse Se aponto alguém amiúde Que nunca me ripostou Será só porque é sisudo Ou será porque não sou? Nunca param para pensar A si nunca fazem perguntas Umas reses a engordar Pessoas assim há muitas!
Uma laje muito fria Sob as nuvens o sol displicente O ânimo condizente O vento sopra nostalgia. Pedras repousam colina acima Sobre elas árvores debruçadas Uma espécie de microclima Diferencia as madrugadas. As noites têm outra aragem E as estrelas lá no céu São romeiros numa viagem Na qual viajo também eu. Rangendo a pedra de mó Esmaga os grãos de trigo Reduzindo tudo a pó O mesmo que trago comigo. As chamas duma fogueira Dissipam tudo na floresta Do fogo da vida inteira A cinza é tudo o que resta!
Eram fortes e valentes Corajosos e destemidos Eram nobres combatentes Que nunca foram vencidos. Com inabalável destreza Em suas guerras combatiam Semeando mais pobreza Onde as guerras decorriam. São os eternos guerreiros Carrascos da raça humana São também os mensageiros Da fé sacra e da profana. São os fulanos de sucesso Vígaros a torto e a eito Inimigos do progresso Que usam em seu proveito. Seja de deus ou de satanás Esta escória enobrecida Cheia de gula voraz É negação da própria vida!
A mentira estampada na cara De quem se vê que vai mentir A verdade uma coisa rara Nos que se querem iludir. Ouço falar de muitas cousas Mas poucas são as que me atraem Andam por 'i tantas rapousas Negando as uvas que não caem. Sinto no ar uns sons estridentes Que em meus ouvidos achocalham Vozes parecendo que ralham Com os que nunca estão presentes. São pessoas já sem raízes Fora do desenvolvimento Trazem na alma as cicatrizes Que não sararam com o tempo. Tergiversam às escondidas Camufladas em si mesmas Quase sempre desentendidas Lentas como se fossem lesmas!
A liberdade desejada Quando serve pra maus usos É uma ideia repassada De sentimentos confusos. A liberdade que labor! Dos que lutam com esperança A liberdade um penhor Que só recua quando avança... A liberdade como ela dói usurpada por ditadores Uma mágoa que corrói O coração dos lutadores. A liberdade o contrasre Do céu nublado ao com Sol Liberdade fim do desastre Em países de um longo rol. Liberdade minha alegria De Abril que a viu nascer Liberdade a companhia Além do dia em que eu morrer!
São úteis os dóceis burros Uns bons animais de cargaMas fechados nos seus curros Não prestam eles pra nada. Os burros de duas patas Que só para carga servem Andando sem arreatas Carga e burros lá se perdem. Uma filha tem a burra E a dona uma filhota Qual das duas é que zurra Pergunta alguém na chacota. Neste mundo arremendado De gente e burros a monte Anda tudo misturado Como água duma só fonte. Bate a suja água em pedras Lavadinhas com requinte Foge de rabo entre as pernas Temendo que alguma a limpe. Os burros compram de tudo Até cartas de guiar Se algum comprou um canudo Não é nada de espantar !!!
Esse teu riso escarninho Esboçado só por engano É retrocesso no caminho Que faz de ti um ser humano. Quando te ris a despropósito É só de ti que tu te ris Tem sempre um riso estrambótico A insensatez como raiz. Uma diferença ao contrário Do que te possa parecer É simplesmente o corolário Da que trazemos ao nascer. Aproveitando o positivo Que cada um possui em si Porás de lado o negativo E não terás pena de ti. Cortando a espiga mais alta pessoa alguma se elevou Se de altura sentira falta Ainda em baixo se quedou...
Como no Douro o rebelo Trepei aos moinhos de vento Nesta vila de Palmela Quase ao nível do castelo Num panorama perfeito Enfunou-se-me o meu peito Como se eu fosse uma vela...