Chamou-me uma pessoa muito triste
Quebrada sem remédio que se visse
Não sei bem me parece alguém lhe disse:
A sua salvação já não existe!
Que coração tão cheio de aspereza
Um modo de falar muito ruim
Que aumenta ainda mais a incerteza
De quem julga que a vida chega ao fim!
Ajudei como pude reanimando
Aquela criatura deprimida
Se melhorou só Deus sabe até quando!
Seguiu o meu conselho isso sei eu
Entrou numa igreja e rezando
Achou aquela paz que vem do Céu!
Encontrei uma concha já vazia,
Enterrada naquela areia solta,
Numa cor desmaiada toda envolta,
Lembrando-me que a vida acaba um dia...
Se Deus me deu a voz para cantar,
Eu canto porque Deus assim o quer,
Cantando ponho as coisas no lugar
Certo ou errado a Deus cabe saber...
O dom divino só a Deus pertence
E vem dentro de nós como ele quer
E só Deus sabe quem mais o merece...
Não sei se de mim Ele se esqueceu,
Do meu canto , porém, quero bem crer
Que o dom de fazer versos vem do Céu!
Saí dum pesadelo estremunhado
logo ao teu retracto me agarrei
Duma imensa saudade emocionado
O retracto mil vezes eu beijei!
Mil vezes beijaria a tua face
Lembrança delicada do meu fado
Que rouba o sentimento, ave rapace,
Reavivando um amor desenganado!
Loucura? desespero? sei lá eu
O que esta minha alma traz consigo
Não sabe se se achou ou se perdeu...
Passada a emoção feita castigo
A minha confusão esmoreceu
Voltei ao meu estado de mendigo...
Na lida costumeira, a sua vida
Vivia ela, garbosa e tão bonita
Que dos homens a voz gemia aflita
Quando a viam passar muito atrevida
De muitos olhares ávidos seguida
Que olhavam entre si sempre em compita
Tentando conseguir a boa dita
Do olhar da mulher apetecida.
O destino fatal deu-lhe um desgosto
Que tirou a alegria do seu rosto
E afastou os olhares amorosos.
Agora já nenhum olha pra ela
Que nesta rosa pura e ainda bela
Morreram os trejeitos donairosos!
Trá lá lá, trá lá lá, o teu cantar
Relembra a tua infância revivida
Que forjou a mulher tão decidida
Quantas saudades traz o recordar!
Menina e moça alçaste o teu olhar
Perdido nas lonjuras do destino
Era eu então ainda e só menino
E tu uma andorinha a esvoaçar.
Bateste as asas fortes, resolutas,
Chegaste ao alto sonho que sonhavas
São as tuas virtudes impolutas.
Enquanto a tua escada tu trepavas
Tornavas as certezas absolutas
Porém, só eu sabia ao que chegavas...
As leis da criação não permitiam
Que o Homem de Nazaré deixasse a Cruz
Aquando os fariseus escarneciam
Tão zombeteiramente de Jesus...
Horríveis criaturas, as humanas,
Que fazem do assassínio a salvação
Das almas pecadoras, levianas,
Ignorantes titãs da presunção!
Desconhecem as leis da Criação
Semeiam no trigal uma luzerna
Que não tem as espigas que dão pão...
Confundem a palavra que governa
Prometendo a quem crê uma ilusão
Que o afasta, no Além, da paz eterna!
Cheguei a um lugar e fiquei cego
Forte vento infernal se levantava
Não sei como é que o vento se chamava
Mas sei que em mim lançou desassossego.
As coisas a que tinha tanto apego
Dum golpe se varreram da memória
São coisas que passaram à história
Por descuido afundadas nalgum pego...
Um som surdo enrolado em torvelinho
Martela-me a cabeça atormentada
Tomado de emoção em desalinho
Numa fuga veloz desenfreada
Que leva ao que sonhei em rapazinho
Saí da ventania imaginada...
Dentro de ti dos Céus o reino está
E não nos edifícios de madeira
E de pedra que vês na terra inteira...
Racha a madeira e Eu estarei lá!
Ergue a pedra e aí me encontrarás!
Desconfia dos homens medianeiros
Porque meus não são eles mensageiros:
Só de Mim o Meu verbo ouvirás!
Omnipresente, estou sempre contigo,
Omnipotente, levo-te a palavra,
Omnisciente, sei o que tu fazes!
Procura e encontrarás porque te sigo
E conduzo e protejo contra a praga
Das vozes pregadoras e rapaces...
Um dia se me abriu aquela porta
Por onde calmamente se entra e sai...
De lá trouxe o que traz quem por lá vai
Por via duma crença que o exorta.
Além dela encontrei O que transporta
A bem-aventurança que subtrai
O sofrimento humano que se esvai
Na comunhão cristã que reconforta!
Sua imagem santíssima reluz
Numa auréola que nunca tinha visto:
Um brilho de amor e paz, cheio de luz!
Sentindo o que jamais tinha previsto,
Contemplando o seu Corpo sobre a cruz,
Pleno de fé louvei a Jesus Cristo!!!
A neve pendurada na montanha
A brancura retida em véu de prece
O Sol a espreitar quando amanhece
As palavras exactas de resenha.
Fragmentos reunidos na retina
Os laivos de memória do passado
Os momentos vividos a teu lado
Os diálogos falados em surdina.
O advento de uma outra temporada
A penumbra assombrando o meu destino
O frio enrejelado da alvorada.
Que bom era viver inda menino
Uma criança doce sempre amada
Quem me dera de novo pequenino!