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VERSOS RIMADOS

Versos de amor, de crítica, de meditação, de sensualidade, criados ao sabor da rima e da métrica pelo autor do blog...

Versos de amor, de crítica, de meditação, de sensualidade, criados ao sabor da rima e da métrica pelo autor do blog...

A COR DUMA VELHA IDADE

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Quanto suor vertido nas estradas
E nas imensas ruas da cidade!
Nelas deixei a minha mocidade
E muitas ilusões desenganadas...

Quanta dor, quanta mágoa, nas passadas,
Em busca duma mera felicidade,
Em busca da quimérica amizade,
Que se negam às almas deserdadas...

Num negro subterrâneo me afundei:
Tão escura se tornou a claridade
Que tenho olhos que vêem mas ceguei...

( Aliás, o negro em que mergulhei
Não é mais do que a cor da velha idade,
À qual há muitos anos já cheguei!)

FELIZ DE VEZ EM QUANDO

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A tua voz amada se calou
O dia da saudade tomou voz
Os suspiros e ais contigo a sós
O tempo do silêncio os levou!

Tantas coisas dum mundo muito nosso
Momentos e momentos revividos
A todos eles guardo, reunidos,
Numa arca em contínuo alvoroço!

O meu grito ultrapassa a estremadura
Do lés a lés e a voz caída em pranto
Clama por ti nas horas de amargura!

Embora muito triste, no entanto,
Do reencontro na vida já futura
Eu me sinto feliz de vez em quando...

O SUBCONSCIENTE

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No seu interior, o subconsciente
Um escalão de valores insinua:
Uma lista certa, incerta, fria e crua
Que em nós arregimenta toda a gente...

Em nada determina a nossa mente
O lugar no qual outrem se situa:
O subconsciente tudo atenua
Em prol de posição conveniente...

Assim, nos colocamos, sem querer,
Mais abaixo ou acima sem sequer
Pesar bem o valor doutras pessoas...

Pequenos, médios, grandes percorremos
Uma escala que nós desconhecemos
Por razões que não são nem más nem boas...

NEM TÊM DONO

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O polvo tudo envolve em seus tentáculos,
Abafa o respirar da sua presa,
Ela sucumbirá ante os obstáculos
Tal como quem destrói a Natureza...

O humano faz da terra um açafate
Onde guarda intestinos esporões
Passa a vida a puxar dos seus galões
Mas é irracional no disparate...

É tão grande o buraco do Ozono
Quão a inconsciência dos humanos
Antecipando o seu próprio Outono...

Animais racionais, puros enganos,
Não reconhecem lei, nem têm dono,
Parecem vagabundos, quais ciganos!

O PÃO QUE MATA A FOME

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Tão magros e mal cuidados das agruras
Os indigentes vão e ninguém vê
Tanta indiferença humana vem de quê
Já que cegas não são as criaturas!?

A cegueira dos olhos da razão
É tão dura, insubmissa e leviana!
Vive mais em pecado quem se engana
Enganando o seu próprio coração...

Quanto mais alguém foge da pobreza
Que de mão estendida pede esmola
Tanto mais vai fugindo da pureza...

Como quem traz amor numa sacola
Tira da tua bolsa, com nobreza,
O pão que mata a fome a quem esmola!

AS MENTES ANDAM LOUCAS

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Por causa duma trave nunca vejo
Os argueiros nos olhos das pessoas,
Nem sei se serão elas más ou boas:
Que possam viver bem é o que desejo!

Sentir-me aborrecido é cousa rara,
Comigo podem sempre conversar,
Mas nisso muita gente não repara
E se afasta de mim sem hesitar!

As opiniões são sempre subjectivas,
De inexactidão todas são passivas,
Não se anulam jamais umas às outras...

Se acaso coincidirem, de verdade,
Será uma tão grande novidade
Que alguém dirá que as mentes andam loucas!

SÓ NOS RESTA A ESPERANÇA

 

Sinto tremores frios no meu corpo,
Inverno enregelado que me mata,
ilusões enroladas em cascata
num turbilhão que vive meio morto...

Soldado amedrontado em casamata
que vê a morte em campo de batalha,
tem medo mas a Pátria logo ralha
e uma dúbia coragem o arrebata...

Na vida a plenitude não se alcança:
devido a embaraços que nos surgem
da vida só nos resta a esperança...

São muitos os desejos que nos turgem
mas as contrariedades em aliança
transformam os desejos em ferrugem...

CUMPREM SEMPRE PENITENCIAS

 
Pintados de amarelo cor de fome,
percorrem assustados os seus mundos
levando atrás de si um medo enorme
e as chagas dos seus corpos tão imundos!

Também levam consigo vis misérias,
vidas regurgitadas dia a dia
nos míseros casebres de agonia
em que as vidas humanas são galdérias...

Mais do que a seara humana luzidia
resplandece o egoísmo dos poltrões
que exploram quem trabalha noite e dia.

Num mundo que só vive de aparências,
as ocasiões fazem os ladrões
e os pobres cumprem smpre penitências...

O PÃO QUE ELE AMASSOU

 

Paira um pesar fingido mascarado
em muitas roupas vãs pecaminosas,
criaturas humanas andrajosas,
fingimento das almas em pecado...

O diabo que anda à solta, em correrias,
oculto por travessas e veredas
escuta sempre tudo o que segredas
e lança a perdição todos os dias!

O trigo da fartura que consomes
por vezes faz o pão que ele amassou
e que tu sem saber ainda comes!

Chega a hora em que os olhos bem abertos
vêem o mal que em ti um dia entrou
e então vais por caminhos encobertos...

A LUZ QUE BRILHA ÀS AVESSAS



Afugenta a palavra, qual tropeço,
O cordeiro inimigo, maculado,
Escorpião, veneno inoculado,
A pedra pontiaguda de arremesso...

Fútil vaidade humana sem promessas!
Tu vens das catacumbas asquerosas,
Trazes reminiscências escabrosas,
Tu és a luz que brilha às avessas...

Imersão em areias movediças,
Levantar de cabeça atrofiada,
Ranger de ferrugentas dobradiças

Escondes a aflição desmesurada,
Confrangedor alerta sem premissas
Numa atitude à morte condenada!