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VERSOS RIMADOS

Versos de amor, de crítica, de meditação, de sensualidade, criados ao sabor da rima e da métrica pelo autor do blog...

Versos de amor, de crítica, de meditação, de sensualidade, criados ao sabor da rima e da métrica pelo autor do blog...

À BEIRA DO SADO



Estou aqui olhando o mar
Rio da minha cidade
Não sei quem o fez zangar
Com tanta animosidade.

Ondula-se numa fúria
Sob as rajadas do vento
tem uma cor de penúria
Que lhe vem do firmamento.

Ontem era azul marinho
E sob os raios solares
Prateava um caminho
Dos que encantam os olhares.

Amanhã já sem borrasca
Nova planície será
E a alegria que nos dá
Cada dia mais se alastra.

Amo o branco rendilhado
Desta baía tão linda
À beira do rio Sado
Eu nasci e vivo ainda!

ÁGUIA DE LISBOA

 

A águia gloriosa de Lisboa
Na sua muda intrépida de pena
Está a cada dia mais pequena
Quer voar mas já pouco ou nada voa.

Dela dizem que ainda paira alta
Os adeptos que não conseguem ver
Que a águia a pouco e pouco anda a morrer
 Para entrar num caixão pouco lhe falta.

Tirai a vossa águia da agonia
Deixando de estar presos ao passado
A glória nasce sempre no relvado
Mas nunca em qualquer secretaria.

Que a águia ponha os olhos no dragão
Nada ganha batendo asas à toa
De novo sobre as torres de Lisboa
Há-de planar firmando os pés no chão!

ATÉ ÀS TANTAS


Os sussurros que chegam aos meus ouvidos
Quando pronuncias o meu nome Abel
são doces quais melosos zumbidos
De abelhas elaborando favos de mel,

Nas tuas mãos trazes a delícia
Das carícias cada vez mais recriadas
Adormeço adormecido na preguiça
De separar as nossas mãos entelaçadas.

Nos teus beijos mato a sede infinda
Que os teus lábios tão bem sabem saciar
Olhando para ti vejo-te tão linda
Que o coração parece querer me abandonar.

Vai sem sair do meu peito
Paira sobre nuvens em folguedo
Só e mudo no pretérito-perfeito
Ora o que de ti vê diz-me em segredo.

Outrora uma rua silenciosa e parda
Hodierna avenida ladeada de plantas
Amanhã é um tempo que não tarda
Transbordemos hoje de amor até às tantas!  

O SEGREDO

Nos dias venturosos de primavera
Em que o vento sopra mais ligeiro
Encurtas  muito mais a minha espera
Do que no tempo frio ou soalheiro.

O teu corpo cheio de frescura
Abre-se em pétalas coloridas
Sou rio correndo sobre a planura
Do horizonte das nossas vidas.

Qual árvore folheando os seus ramos
Trazes contigo  o Sol levantino
Tens a luz da lua quando admiramos
O mar tomado de furor repentino.

Serás sempre um elo no destino que for
Forte ou fraco pouco importa
Serás  a chave que abre e fecha a porta
Por onde exalamos o perfume do amor.

As gotas caídas no chão duma gruta
Penetradas nos interstícios do rochedo
Trazem consigo o eterno segredo
Que só conhece quem as escuta...

O ARGUEIRO


Tu já és o pó que à terra há-de voltar
Embora na terra ainda sejas passajeiro
Uma travessa em frente do teu olhar
Não impede que no alheio vejas o argueiro.

Vejo-te perdido numa idade
Em que o movimento deixou de existir
Vives fora da modernidade
Tens no passado o teu único porvir.

Não lês como não liam os teus avós
Não escreves que para ti não há penas
Revês-te em coisas tão pequenas
Que a tua vida é uma corda cheia de nós.

Como gostava de poder estender-te a mão
Mas tu foges do que em mim não vês em ti
Condenas-te condenando-me sem razão
Nunca verás o que até hoje eu já vi...

A VIDA

No silêncio das palavras que não dizes
Ouço histórias que não ficam por contar
Momentos em que nós somos felizes
Talvez valha a pena um dia recordar.

Merendas sob o céu azulado
O Sol a brincar com os teus cabelos
A toalha de desenhos sobre o relvado
Tu e eu trocando desvelos.

O vento dança com as folhas das árvores
A valsa de nome eternidade
Melros solistas cheios de artes
Anunciam o mistério da natividade.

A Primavera corre atrás do Verão
As crianças umas atrás das outras
A chuva ainda vai molhando o chão
Os de sangue frio saem das suas tocas.

A vida como um rio novo e velho
Nascido numa longínqua serra
É a imagem reflectida num espelho
Do que somos tu e eu aqui na terra...

SONHEI UM DIA CONTIGO




Sonhei um dia contigo
E passaste a ser alguém
Com que sonho ao abrigo
Dos sonhos que fazem bem.

Será por ti mais sonhado
De tudo com que sonhaste
O que sempre desejaste
Mas nunca foi alcançado.

Os sonhos que nós sonhamos
São coisas que se idealizam,
Embora todos saibamos:
Nem sempre se concretizam.

Dos sonhos lindos que sonham,
Da infância à velhice
Os homens não se envergonham
Que sonhar não é tolice!

AS ANDORINHAS

andorinha.jpg

Uma luz ao fim do túnel
Pode ser a luz em nós
Se não ficarmos a sós
Em 'scuridão insolúvel.

A brisa fresca ligeira
Numa tarde de calor
Ameniza a soalheira
E enxuga um pouco o suor.

Se for alta uma parede
Que não se possa trepar
Que jamais alguém se enrede
Por deixar de a contornar.

São as malhas duma rede
Ora largas ora 'streitas
As coisas que são bem feitas
Não haverá rede que as vede.

Tristeza e alegria correm
Lado a lado como iguais
Se umas andorinhas morrem
Logo nascem outras mais!

DE CERTA RE



Sem querer ter a certeza
De que penso sem engano,
Vejo na língua a nobreza
Do brio mais lusitano.

Cada vez mais a certeza
Da minha objectividade
Me surge com a firmeza
Da luz que dá claridade.

De que é bom falar correcta
E claramente a certeza
É mais das almas pureza
Do que pensar de pateta

Faz parte do patriotismo
Ter bem presente a certeza
De que a língua portuguesa
Não é qualquer barbarismo!

PANO DE QUALIDADE

 

burro.jpg

Do esforço à realidade
Da convicção ao efeito
Vão duas imensidades
Maiores que qualquer sujeito.

Qualidades almejadas
São presas do julgamento
Cinzas jogadas ao vento
De pretenções mal pensadas.

O equilíbrio rejubila
Nas pessoas prevenidas
Contra à queda que aniquila
Das alturas desmedidas.

Além das nuvens sabidas
E de vento forte em rajadas
Também podem trovoadas
Ocorrer nas nossas vidas...

Na interactividade
Desta era em que vivemos
Falar com a vacuidade
Deixa marca de somenos

Usa no campo uma albarda
A burra que na cidade
No corpo traz uma farda
De pano de qualidade!